quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Tortura Nunca Mais

Monumento Costa e Silva é derrubado

"Cai um rei de espadas", como cantaram Elis Regina e Ivan Lins...
Não sei se foi bom ou ruim a ação em si , porque o que houve no regime militar não devemos esquecer, mas a simbologia da "queda" foi muito interessante e vale a reflexão. 
De acordo com o Grupo Tortura Nunca Mais, o relatório da Comissão da Verdade ainda é superficial. 
Continuemos atentos, então, aos trabalhos acerca deste período, pois o esquecimento desresponsabiliza.

LEIA MAIS: 

Comissão da Verdade responsabiliza 377 por crimes durante a ditadura


Roda e avisa.... a 'pureza' vai além da cama!

Leia em....

Chega de Machismo!!


domingo, 2 de novembro de 2014

Como permanecer..de algum modo?

Em seu livro "De frente para o Sol", Yalom nos desafia a ir ao encontro do que, tantas vezes, tememos; o título remete ao belo (e real) pensamento de Le Rochefoucauld, de que "nem para o sol, nem para a morte, nós conseguimos olhar fixamente". (ou pelo menos, não por muto tempo).
Contradizendo um pouco isto, a lucidez da minha mãe acho que lembra mais a poesia de Raulzito "O caminho do risco é o sucesso. O acaso é a sorte. O da dor é o amigo
O caminho da vida é a morte!"

Não ser egoísta, doar-se, ajudar, pensar no próximo...
Não lembro de ensinamentos vindos da minha mãe que não tenham como base, o fato de preocupar-se com o bem das pessoas. 
Ela faz isso, sempre fez isso e pelo visto continuará fazendo...

Estou certa de que todos os seus seis filhos têm isso muito arraigado. 
Caso contrário não teríamos compreendido perfeitamente sua decisão, e assinado, nós seis, o termo de declaração de vontade e testemunho de doação voluntária de corpo para estudo anatômico.

Doação de Órgãos (galera, bora doar! é importante deixar isso claro para a família) é quase óbvio para a gente...  mas a minha mãe foi além, e declarou (registrado em cartório) a doação do corpo para o Departamento de Anatomia do Instituto de Ciências Biomédicas da USP. 

A proposta é incrível e até minha mãe falar sobre o assunto, eu desconhecia.
Quem nunca pensou sobre isso, sobre a vida, o depois... por que não?

Ótima semana, ótima existência!!
Déia

Saiba mais clicando na imagem:




Dia 02/11

Eu odeio chorar, porque entope o meu nariz, mas se a gente não chora, fica tudo meio sufocado mesmo.
Hoje é feriado de "finados"...estranho...aquilo que não existe mais, que faleceu, aquilo que falta, que expira.
Apesar de ter 'caído' em um domingo, o feriado sempre tem um quê de celebração, talvez comemorar o dia de finados não seja bem o termo, muito embora existam belíssimos festejos, como o "Día de Los Muertos", no México, quando os mortos têm permissão de vir à terra visitar os entes queridos.
Quem dera...
Caramba, a saudade fica nos espiando o tempo todo, e as vezes dá o bote, como uma cobra paciente, que aguarda um passo inseguro no mato alto.
Da psicanálise freudiana às mais novas descobertas da neurociência, do ceticismo secular às crenças ao sobrenatural, da elevação dos espíritos àqueles que acreditam ao nada depois daqui, certamente explicar-se-á, um dia, porque dói, no meio do peito, a falta de quem não volta mais.
A emoção não tem preconceito, ela não tá nem aí para o que você acredita, ou não acredita, ela te espreme tanto num abraço solitário, que salga o rosto, com a água dos olhos.

Ao meu pai.
Andréa Albuquerque.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

25/03 em 11/10

A 25....

Fui com o propósito de fazer uma única compra: a de uma armação de óculos... 
Nossa, há tempos eu não visitava aquela dinâmica maluca no centro da cidade de São Paulo.
Parece que a economia foi significativa; mas na ponta do lápis, computando o pastel de palmito, o estacionamento, o damasco do mercadão, o vidro de pimenta biquinho, sabe-se lá se uma ótica no shopping Eldorado, com parcelamento amigável, não teria efeito maior....

Vinte e cinco de março é lugar de muitos idiomas, de paz entre tantas etnias, de guerra entre lojistas e camelôs. Lugar de cometer erro ao confundir, por ignorância, chineses e coreanos. Lugar de contrabando, de contramão, de verdade e de falsificações. 

Próximo dali o Mercado Municipal com frutas coloridas, cheirosas, aroma confuso da mistura de bolinho de bacalhau, com temperos dos mais variados, cheiro de empório, cheiro de mortadela.
Tudo naquele entorno transpira a São Paulo popular, lugar que recebe as pessoas indiscriminadamente. E ironicamente, pois tem uma inospitalidade instaurada, pela falta de espaço, pelas calçadas incertas, trépidas, pelo mau cheiro que escoa rumo aos bueiros entupidos, nas ruas acinzentadas.
Li que o nome 25 de Março oriunda da data de juramento da primeira constituição do Brasil independente; no entanto, não é possível saber qual lei ali impera na atualidade, qual juramento prevalece.



Ladeira Porto Geral acima, no metro São Bento habitam por alguns instantes os rostos ora cansados, ora animados, missão cumprida, de tantos compradores, corpos suados, sacolas imensas sendo arrastadas, crianças também, por suas mães, que as reprimem por usarem os brinquedos que foram comprados uma hora antes, iniciando uma esquizofrenia exaustiva a todos, causada pelo desgaste da caminhada e pelo consumismo exacerbado.
Assustador também o número de pais que levavam bebes que aparentavam ter menos de 2 anos, parecem tão insalubres, o local e a atitude.

Mas ali está, e estará por muito tempo, a 25 de março é de todos nós, um espaço público curioso, paulistano, plural, de dores, de sonhos, de planos...
Queria muito saber a história de tantos que ali estão, como o do vendedor de baterias, que parecia gentil com todos, de rosto forte, mas amigável, com português sonoro no mais interessante sotaque árabe. 
Tudo ali parecia confuso e em paz, na ambiguidade que só o centro torna capaz.
Finalizo esta reflexão nesta rima tola, com saudade deste passeio, que desperta a loucura de ter sentimentos opostos: a vontade de não querer voltar tão cedo, mas o desejo de estar ali, comendo pastel, esbarrando em tantas vidas...




terça-feira, 16 de setembro de 2014

Por favor não me ame agora...


Um amor declarado chega repleto de delegações, algo com o qual você tem de lidar. É seu agora. E o que você vai fazer com isso?

Quando alguém te ama, é bem Exuperiano: "tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas"; desse modo você já é um devedor, a contrapartida é aquilo que completa o sentimento dito pelo outro, o débito é o seu amor de volta. Mas e se isso lhe falta? 
E se a mão estendida não é alcançada porque você estagna? 
Mas por quê? Por que você congela? 
Sei lá se é importante descobrir a causalidade do seu recolhimento, afinal quando admiramos um siri, ele logo se esconde, um caracol se encaixa em sua concha, e nem sequer pedimos explicação.
O fato é que um amor declarado não é afirmação, é sempre um pergunta. Você me ama também? 
Tô aqui neste Alaska curtindo as nuances de poucas cores. 
Estou quase em branco.
Vale responder só isso? Que eu apenas me apeguei à minha paz.



segunda-feira, 15 de setembro de 2014

NÃO É CULPA DE DEUS!!


Um desabafo sobre os riscos à vida, pela hipocrisia atribuída ao sobrenatural.

Que assim (diferente) seja!




Existem muitas congruências entre a situação econômica deste país, o nosso 'emergir' em lado oposto, a corrupção escancarada e a permissiva popular de sua prática, o atraso da ciência em centenas de anos e mais uma morte por aborto clandestino ocorrida nos últimos dias.

Historicamente construídos e absolutamente entrelaçados, esses pontos que aqui descrevo têm, entre tantos outros novelos desmembrados, uma linha comum que costura essas infelicidades: as instituições religiosas, a igreja católica, e muitos dos templos de Salomão, que furtam tanto dinheiro quanto a capacidade das pessoas refletirem. Um atraso imensurável, um risco cujo preço muitas gerações continuarão pagando. 

Há milhares de anos, e assustadoramente ainda com tanta força, existe esse manto sagrado, cujo tecido, intangível, de veludo pesado, vela, cega, impede a liberdade, a coragem e muito pior, extrai a RESPONSABILIDADE de cada cidadão tomar para si o caminho das próprias escolhas e principalmente as consequências destas.

A imposição religiosa, e sobretudo unilateral, cristã, em um estado Laico, não é apenas inconstitucional, é um atraso, uma vergonha, um crime. Uma profunda tristeza.

Eu não tenho dúvida que delegar a Deus todas as agruras da vida e bençãos é um caminho fácil.
Eu queria muito, muitas vezes, acreditar, não acredito, em Deus, nos céus, no inferno, em nada.
Sim, isso dificulta muito as coisas por aqui, mas eu não estou discutindo a existência de Deus, mas o oportunismo dos homens em nome Dele.
E tanto pior, das consequências causadas pela atribuição divina aos mais perniciosos seres HUMANOS, resultando em maldade, mortes e inação.

Uma jovem está desaparecida porque foi fazer um aborto clandestino, porque é proibido, porque a igreja condena e o congresso diz amém. 
Ela fez fez aborto porque engravidou, engravidou porque não usou métodos anticoncepcionais, os quais a igreja condena e o congresso diz amém.
Temente? Eu temo por essa moça, pela sua família, pela mãe dela que a perdeu.
Temo por todas as mulheres que por uma burrada, por medo, por vergonha, por força da lei (absurda) morreram...

E lá segue o povo fazendo mais filhos, porque Deus manda, porque o machismo coloca o pau sem perguntar nada, porque onde come um comem 10, ou ninguém come nada, o ouro do Vaticano não banha o garimpo do Pará, não brilha no Norte, no Nordeste, nos sertões deste Brasil. O ouro do Vaticano não veste Serra Pelada, nem a menina descalça, nem mata os vermes das regiões órfãs de cuidados, de saneamento, de gritos por mudança, nem luta porque a igreja disse que esse é o destino.

Será que o meu coração não tem espaço para Deus por tamanha indignação diante da perversidade mundana?




Eu ORO através deste texto, clamo por mudança, por punição aos templos corruptos, aos homens injustos, à mentira em nome de quem não pode se defender.
Eu ORO por uma iluminação às mentes adormecidas pelas vozes  baixas e uníssonas e gritantes de padres e pastores, que eles se emudeçam um dia, que por força maior, as pessoas compreendam que podem ter saúde, escolas, comida, amor, sem ter medo. Tudo aqui. Que lutem por isso com a pouca força que têm, porque delas se tirou muito.
Que as pessoas possam votar melhor, amar os filhos, escolher tê-los ou não tê-los, fazer o bem não porque alguém mandou, mas porque é a coletividade que nos faz cidadãos. 
Eu ORO, através deste texto, por menos discriminação, pela descriminalização do aborto, pela liberdade de escolha religiosa, sexual, e por um sertão mais irrigado, de ciência, saúde, e liberdade de pensamento.

Me permito ser generalista, até porque não teria como eu fazer um estudo profundo dos malefícios da herança do obscurantismo religioso que está absolutamente presente em nosso país. 

Termino aqui com minha sincera indignação a essas candidaturas ligadas à religião, assim como a invasão das rádios, assim como políticos naquelas cafonices nojentas e corruptas que são as casas e templos espalhados por aí...

Todo meu respeito ao corajoso e arrojado papado de Francisco, um homem que me inspira, e me dá esperança por um Vaticano melhor, mais justo.
Outro Francisco que me inspira sempre: meu pai; que me mostrou o melhor caminho, do qual as vezes eu desvirtuo, mas eu mesmo assumo as consequências, porque não espero nem o céu, nem o inferno, espero crianças na escola, idosos respeitados e vivendo dignamente, adultos trabalhando, lendo e se alimentando.

Amém!
Andréa Albuquerque

domingo, 24 de agosto de 2014

Anvisa, Maconha e os Malefícios do Adiamento

Literalmente um atraso... tudo se prorroga neste país.
A morosidade, a burocracia e a arrogância administrativa contribuem para o sofrimento de todas as ordens. 

Até o momento não resta pensar outra coisa senão que a proibição do canabidiol indica a confissão de incompetência regulamentar. De pavor de perder o controle.
É isso?
Mais uma vez uma espécie de prepotência se instala em Brasília e ignora não somente a autonomia do paciente, mas também a urgência da análise das solicitações de importação, e da liberação em si.

O Ministério Público Federal (MPF) tem sido absolutamente eficiente no atendimento às famílias que buscam liminar para importar o medicamento, mas tudo isso leva tempo.

É hora de encabeçar esta luta, aflorar as discussões nas instâncias do legislativo e executivo.
Afinal a demora é tanta que parece ter saído totalmente do âmbito técnico.

A Frente Parlamentar da Saúde se reunirá nesta terça-feira, dia 26/08.
Que esta priorize a legalização, Darcísio Perondi....!!
Menos temor, menos tremor, mais eficiência...











O calor da água gelada

A primeira vez que ouvi falar sobre Esclerose Lateral Amiotrófica foi há cerca de 13 anos.
Assim como ouvi sobre Amiotrofia Espinhal Progressiva, Síndrome de Rett, Prader Willi, doença de Charcot-Marie-Tooth, Ataxia Espinocerebelar e tantas outras doenças e seus muitos subtipos, com nomes difíceis de pronunciar e com consequências difíceis de aceitar.
Sobre Distrofia Muscular eu ouvi falar há muito mais tempo, conhecimento empírico, sentido na carne, na pele, no cerne. Mas essa, em mim, dá para tirar de letra, é leve.
Que bela ironia, o que pesa não é a presença da doença, mas a falta que ela proporciona, a falta de força, de conexões acertadas, a falta de compreensão muitas vezes, a falta de cuidados, de tratamentos, a falta de ar, a falta da fala, a falta de explicações.
Eu tive amigos com ELA, tenho ainda, mas um deles, Humberto Secatto, foi e sempre será muito especial, não preciso desejar que ele saiba de algum modo da minha admiração, ele não está mais aqui, mas ele sempre soube.
Fico pensando como ele tornaria tão popular o banho gelado, às vezes um alivio no calor do centro oeste, em Goiânia, onde ele vivia.

Muito do que a gente (as pessoas que conhecem essas patologias pela fatalidade de tê-las em suas vidas) sempre quis foi que tudo ficasse mais "popular".
A doença "rara", para quem tem é de 100%; e a gravidade dessas fazem um equilíbrio entre a importância de situações epidêmicas e um número pouco expressivo para a indústria farmacêutica e para a mida.




Não faço apologia à uma competição publicitária de qual doença deve aparecer mais, se há lugar para tantas enfermidades no corpo, há de ter espaço nos meios de comunicação e na ciência.




Eu soube desde lance do balde de água fria pela minha mãe, há poucos dias, e comecei a me inteirar, que incrível ouvir pessoas tão fora desses conceitos complexos falando sobre ELA. É realmente surpreendente!!
Engraçado, às vezes é cansativo explicar sobre algumas condições de saúde, hoje assisti ao vídeo de um amigo ( Allan Lopez ), que bacana! Um jovem, que não "precisaria" saber sobre ELA, tomando um balde água fria e explicando sobre a causa, foi bem emocionante.

O balde de água fria representa também a notícia de estar afetado por uma doença degenerativa.
De fato é um gelo na espinha, a confirmação tira o chão, que aos poucos se reconstrói, pela informação, pela esperança; e que através da ciência, esse chão tenha a concretude do calor perto do fogo, o tratamento e a cura.

Parabéns aos idealizadores e participantes, que venham à luz mais investimentos, mais pesquisas, mais respostas.

Andréa Albuquerque


Assista: http://www.socialfly.com.br/videos/283-o-ultimo-video-do-desafio-do-gelo-que-voce-deve-e-precisa-ver#







Acho que o tempo é como um abraço: ...ora te acolhe, ora te esmaga, ora está ali para lembrar que é despedida, ora para recuperar o que a saudade apartou. 
E assim como um bom abraço, o tempo é absolutamente TERAPÊUTICO....



terça-feira, 5 de agosto de 2014

mais uma vez sobre o amor


O que te move? O que move o seu olhar? Para aonde ele mira? 

Qual paixão te diverte? Qual te enlouquece? Que amor te tranquiliza? 
Que desejo, de impedido, te abate? 
Tomara que viva fortes emoções, que seja difícil em alguns momentos, porque a dor ensina. Mas que seja tão belo que te permita acreditar de novo, tantas quanto forem as vezes. 
Que seja breve quando dilacera, como um grito num só respiro, e que o fôlego seja violado por uma nova vontade, outro grito, ou interrompido pela calma, pelo silêncio, por amor.
Que o sentimento não te abandone, seja na unilateralidade que te consome em uma paixão, seja na cumplicidade que o faz necessário ao outro, num complemento de surpresa e de cuidado.


sexta-feira, 18 de julho de 2014

Sampa

Férias em Sampa é descobrir que o Masp tem entrada gratuita às terças. 
E que o vão livre parece não separar Arte de Rua de Kandinsky. Ele junta. 

Portinari, Renoir, Monet, Manet, Picasso, Consolação, Bar do Zé, Sambão. van Gogh e tantos Vicentes. 



Paulista de tantos idiomas. De mundos impensáveis. De arranha-céus ao verde Trianon, de soma vultuosa de todas as ordens ao troco do submundo, e no meio: tudo. Todos os cheiros misturados. 

Eu tenho a impressão de que o tilintar de taças de Champagne soa simultâneo ao da cerveja suada num balcão de madeira melada, separados por poucos metros. Isso quase define a ambiguidade desta metrópole.

Do Alto do Elevado à Baixa Augusta, do Centro às Bordas, tudo é recheado em São Paulo. 
Sua lindeza, sua feiura, tudo fascina.



segunda-feira, 14 de julho de 2014

Inevitável

É impossível impedir um sentimento, é como envergar um jarro cheio de água e desejar que ela não derrame. Neste sentido, todo afeto, qualquer paixão, é puro transbordo. 


Talvez possamos lidar com isso depois, enxugar a água, bebê-la até.

Mas tudo o que nos comove transforma-se em força que mantem o pulso em movimento, girando o jarro, espalhando um pouco de nós por aí, de forma atrapalhada, atrapalhando a ordem.

Não sei se existe uma preparação para isso, pois se o jarro é de barro resistente, a gente nunca terá força suficiente para impedir o gotejar tão ingênuo quanto lascivo.

O barro é resistente, nós também, afinal é dele mesmo que viemos.... 

A fábula de Higino nos conta que o humano é feito do barro, cuidemos propriamente então, de todo afeto que transborda em nós! 

Tudo o que nos faz chorar e sorrir são formas de amor. 

Se TRANSBORDA, deixe DERR(AMAR) ...


quarta-feira, 2 de julho de 2014

Sobre a importância do pertencimento....


"De onde eu venho ninguém vai falar textualmente que o mundo não é para você, mas todos os dias alguma situação está falando que NADA é para você" (Criolo)


No dia a dia a gente não se dá conta de como isso (pertencimento) é importante, e pode ser PRATICADO por todos nós, por meio da EMPATIA.


A hostilidade dói prá caramba.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Vertente


Ver e ter são igualmente próximos e antagônicos quando se trata 

da realização do amor.

Apenas o tempo é barragem para o desaguar da paixão, 

mas quem pensa nisso quando o sentimento verte com a força?



A.Albuquerque

segunda-feira, 23 de junho de 2014

O menino e o jogo do Brasil.

Tem coisa mais própria da criança brasileira que uma bola de futebol, um jogo?
Futebol de várzea, de campinho, de gramínea, de terra, no morro, na praia, asfalto, uma pelada, descamisados, troca de uniformes, cores, suores, gritos, gols, calcanhares, chutes, apostas, sonhos que rolam, atravessam as traves, travessas crianças, travessos moleques.

Por um acaso eu não estava em frente à TV no jogo do Brasil na semana passada, dia 17/06, eu estava com o carro estacionado em frente a um hospital em SP, a radio CBN não me deixou excluída, nem sequer do sentimento de frustração...parece que a atuação da seleção não foi lá essas coisas.

Mas havia um menino ali que não estava ouvindo o rádio, nem a TV. Quantos meninos não estariam assim... ? Tudo me passava pela cabeça: quem ele aguardava, o quê? Um pai, um paciente, um gol, um médico, um parente, uma resposta, um país melhor? Ou nada, ali se distraia nas grades lambuzadas de horror, de esperança, de doença, de saúde, de cura. Era triste demais ver aquele menino...estava bem vestido, de nada importava, tanto pior não o estivesse, não nego, mas não tinha o jogo, o barro, a bola, nada. Ele mexia os pés, abaixava a cabeça, olhava entre os corrimões, não eram traves de gol... 

Dava vontade de tirá-lo dali, de preservá-lo de todo sofrimento. Ele sofria afinal? Preservar as crianças temos vontade, como se preservam presépios com esperança de uma benção. O garoto em frente ao hospital não estava lá dentro! Não era paciente, mas estava naquele momento. Um paciente poderia estar vendo o jogo, torcendo e sorrindo? Que saco mensurar qual criança está brincando menos, sorrindo mais, balançando as pernas, ou imóvel! 

Hoje eu vou torcer, por uma virada deste jogo, não havia um sorriso ali... 
Que o garoto da rua em frente ao hospital - será que ele gosta de futebol? - esteja brincando hoje. 
Toda criança merece isso.
Merece entrar no time, merece gol, e merece defesa!





Andréa Albuquerque

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Mesmo em chão arenoso, e talvez principalmente, somos autores da própria vida.

Um desabafo, uma reflexão.


A absoluta certeza (isso é quase redundante!) de não querer ter filhos é algo que sempre me acompanhou, e olha que não é fácil ficar provando que você é uma pessoa "normal", que isso não te faz menos mulher, menos humana. Até pelo fato de eu gostar de crianças, gostar de gente, a decisão sempre causou estranhamento. O que é uma chatice, diga-se de passagem. 
Mas eu carregava com propriedade esta opção, poucas foram as vezes que tive de ratificá-la para mim mesma. Em uma consulta, há bastante tempo, uma médica falou que eu era/estava muito fértil, essa informação me encheu de uma espécie de "poder", é quase uma brincadeira egóica que acontece com a gente - com nosso corpo e alma (sem a separação cartesiana). Eu tinha tudo nas mãos: a fertilidade e a decisão de não utilizá-la. 

Não sei explicar como isso funcionava ou o sentido atribuído a este afeto, mas dava uma sensação de controle, de ter "tudo", toda a feminilidade, todas as possibilidades diante de mim. 

Nos últimos meses eu passei por muitas mudanças, o movimento da vida é constante, alguns, entretanto, emergem como uma jubarte no mar tranquilo, sua vida está em um barco ali perto e você sente aquela ruptura no meio do oceano, é um susto, e você é capaz de sentir o gosto salgado que alcança a boca, que te atinge por inteiro, que te falta o ar. 


Que ironia, te falta o ar justamente quando a jubarte respira. Quando algo rompe no meio do caminho e desancora as suas certezas. 

Como ensina Sartre: somos escolha a cada instante. 
A liberdade que eu tive até hoje, parece ter sido cessada por um muro, pelo muro da facticidade. 
Sartre diz que "somos condenados à liberdade", a impressão que tenho é que toda a responsabilidade das minhas escolhas ficaram submersas no dia a dia, cujas consequências foram varridas desta inundação e apareceram agora como conchas claras na areia escura. É possível vê-las nitidamente

Em outra consulta, mais recente, fui informada sobre a necessidade médica de ser submetida à histerectomia (retirada do útero). É uma coisa maluca quando o médico fala: "você não teve filhos por opção?" 
Sim! Até agora!

Só que agora não é mais uma opção, não a opção de ter ou não filhos, existem outras formas para isso, mas sim a possibilidade de gestar.
O que discuto aqui é muito mais cru que o sentido da maternidade, é mais que isso, ou muito menos que isso se nos detivermos à beleza do cuidado com o outro. O que discuto aqui talvez seja o oposto da doação, talvez seja o egoísmo, o poder ter e não ter, por escolha. Até agora.

O empoderamento que sustentou tão contundente decisão ao longo da vida, sai de você no girar da maçaneta do consultório, e isso nada te alivia, te fragiliza por completo.

O bom é que te transporta à vida "real", podemos passar tanto tempo sem o desvelamento da importância de nossas escolhas. O sopro gritante da jubarte no mar da vida me fez mais responsável e certa de que somente nós somos autores de nossos percursos.

Eu jamais poderia me imaginar lendo vários artigos, na qualidade de paciente e não de psicóloga, sobre os aspectos psicológicos da histerectomia. 
Que pensamento prepotente. 

Curioso, para todo procedimento médico existe o TCLE, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, é muito interessante, cada palavra é análoga à situação, eu gosto muito de um dos inúmeros significados da palavra "termo", que é marco divisório, balizamento. Numa brincadeira etimológica o TCLE traz o existencialismo e a existência numa folha de papel, A vida não te permite delegar nada, você está só, você entrega por escolha (e necessidade) seu corpo aos cuidados de outra pessoa, mas a responsabilidade é sua, você a compartilha, livremente.

Ah...Sartre, bem que você avisou a todos nós que "O homem nada mais é do que aquilo que ele faz de si mesmo". 

E assim, fragilizada, mas viva, consciente, aguardando o mergulho da jubarte eu assinei. Sim, eu autorizo. 


Andréa Albuquerque, junho 2014

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Dinheiro de Jogo - só um pedaço da Copa

Enquanto isso um prêmio de R$ 1,1 milhão para cada atleta em caso de título...
Um pouco confuso para mim as prioridades estabelecidas...
Não interessa, neste momento, a origem do montante, a origem é nossa. Nós pagamos! Mas eu não quero pagar!!!
Também não tô aqui para fazer discursinho de não investir em esporte, tanto o contrário, a questão é o que é prioridade, o que é marketing e o que é a vontade de livrar este país do mal do imediatismo.
Temos, por exemplo, centenas de atletas sem apoio, os "não-futebolistas", com potencial para 2016, para 2020, ou apenas para terem acesso ao lazer, à educação e à cidadania através do esporte...
Teríamos a possibilidade de, com este dinheiro, pulverizar muitas cidades com pequenas oficinas com atividades esportivas... mas não...não...não.
US$ 500 mil para cada membro da equipe é dinheiro demais, dá uma agonia, é um desperdício, um mal investimento, uma despreocupação social, dá um nó na garganta.....

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Tem fragrância aqui? Respire fundo e leia.


O cheiro contradiz o princípio da volatilidade, pois ele permanece ao evaporar, transpassa o olfato, pede algo mais tátil. Ele não se contenta, não se limita, é livre e nos faz obedientes à sua vontade.

Cheiro é como paixão aristotélica, aquela à qual ficamos submetidos, aquém do potencial de mudança. Paixão da submissão, e não da ação. E cabe a nós adentramos verdadeiramente neste universo quase muscular, no qual o cheiro nos faz morar, da força do diafragma às sombras de nossas narinas, do movimento pulmonar às sinapses, o cheiro se apodera de tudo, de todos os sentidos, em todos os sentidos.

Incrível como a intangibilidade do cheiro pode deixar impressões tão vívidas em nós, tão fáceis de tocar. Palpáveis sim, mas palatáveis? Quem dera o fossem sempre. Mas é assim que ele se impõe, porque nem sempre o que exala é bom, pode ter algo de horror impregnado.

Mas falemos sobre o melhor dos aromas, o qual, em algum momento, nos afeta completamente, aquele que é único em sua mistura, que nos acalma, nos convida à serenidade, ou que nos saúde com a saudade.

Falemos sobre o cheiro  que nos desestabiliza absolutamente, nos excita, nos lança por caminhos misteriosos, por becos úmidos e autenticamente perfumados, por beiradas arriscadas, por espaços aromáticos onde há prazer para o mais exigente dos hedonistas.




Se o cheiro é empírico, existe um odor por vir? Um cheiro ainda não percebido? Talvez, e passa a ser então uma inferência calcada na retomada de nossas histórias, no resgate memorável do que vivemos.
Um odor não sentido - um perfume desejado - está à frente e também no passado, ele vive em nossos processos mentais. Afinal o que é o futuro se não parte de nossas memórias?

São tantos os cheiros e aromas que orbitam em nós com vigor, nas lembranças da infância, de caju e pitanga, no futuro temerário, nos livros, no riso, no choro, na saudade e no sonho, no café, na fogueira, na comida, no banho da ducha, no mergulho no mar, na vida, no respirar.

Muitos aromas fascinam você?




Andréa Albuquerque, maio 2014

sábado, 3 de maio de 2014

DEIXEM AS ARMAS. TRAGAM O CHÁ, O CAFÉ, AS BANANAS. VAMOS CONVERSAR...

Porque racismo nem sempre é transmitido em HD...

Agora tem a campanha em favor do David, o torcedor que jogou a banana no gramado.
Vimos na última semana a campanha em favor de Daniel Alves, jogador que comeu a banana. Aliás, incrível a atitude!
Esta polêmica já foi longe demais? Não, não foi.
Já falei disso outras vezes, o debate extenua, mas o cansaço não pode nos eximir da discussão.
A agência de publicidade que lançou a campanha "Somos Todos Macacos" acabou por se defender, porque foi gerada uma outra questão, o valor da causa versus o da publicidade.
Dane-se - neste momento - , se alguém está lucrando com isso.
A propósito, eu detesto futebol, acho ofensivo os contratos bilionários, mas se foi neste neste campo que quicou este bola, vamos prorrogar o encerramento da polêmica.
Porque racismo nem sempre é transmitido em HD, é distorcido, velado, ruidoso, aparece num atravessar de rua, na passagem não dada, no fechar das janelas, no sorriso negado, no negro adjetivado, no salário menor em um mesmo cargo, no encargo da cor, no ônus histórico, o qual cabe sim, a todos nós, todos os dias, lutarmos pela sua dissolução.
Lutarmos em cada atitude nossa pela equidade humana, pelo enaltecer das diferenças; sim, diferenças!
Como pode alguém não acolher a diversidade?
Curioso.... a indignação também pode ser preconceituosa, (mas estou sempre indignada!); afinal, cada pessoa tem uma história, uma construção de crenças, uma educação. Cada um habita um mundo, e se esse mundo é estreito, há pouco espaço para o outro, para o que é distinto.
Dois pés na porta certamente abrirão a casa fechada, e já fiz muito isso, acredite. Mas aí mais fechaduras são construídas. Então como tornar mais elástico o mundo de quem destitui de valor a alteridade?
Não parece injusto nós termos de compreender o racista? Sim, parece mesmo. E talvez o seja.
Mas o que emerge ao vermos uma atitude tão cruel, um xingamento, uma agressão, um mundo onde o nivelamento é pelo horror, é uma questão tão difícil, tão desgastada, que é a prática da tolerância. 


Tolerar é coexistir, é estar livre. É respeitar a si e aos outros, é lançar mão da flexibilidade, e num grau muito elevado, é perdoar. Não posso tratar deste tema agora, do perdão, eu não consigo ainda, confesso, uma pena.

Mas certamente o exercício da tolerância a maturidade vivida ajuda bastante. 
É muito fácil para mim, com a educação que eu tive, não ser racista, o grande desafio é compreender pessoas como David, quando a vontade é de bani-lo mesmo para sempre.
Será que o caminho para um mundo mais amplo, de David, de Daniel, seu e meu, não é prática da tolerância em todos os níveis? 

Haja dedicação para tanto, não é mesmo? Até frieza, ou muito calor, muito amor.
Será que, de novo, a minoria terá de ser mais resiliente? Talvez!
Não sei, nem sei se eu conseguiria tamanha tolerância, é um desejo que tenho por um mundo melhor, não pretendo aqui deixar tudo preto no branco, estou tentando criar sombras com algumas luzes, caminhos e nuances, estou só passando a bola....
A discussão não pode parar.


Andréa Albuquerque, maio 2014

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Dê o nome que quiser...mas sinta..!! Enlouqueça, por amor ou paixão, por um instante que seja.


A gente sai por aí, esbravejando declarações, ou as guarda com um aperto no peito, o que, aliás eu nunca entendi, nunca entendi o porquê de esconder o amor. E nunca o fiz. Ele sempre esteve ali, espalhado, bagunçado, confuso, calmo, mas absolutamente dito, de algum modo, sutil ou nem tanto.
Sempre me incomodou a palavra Amor. O que é? O Houaiss define? Ou o Amor é uma espécie de dor dento da gente?
Um medo.
Aí sim...meu Deus, como a gente tem medo de amar, não é?
Porque é difícil mesmo, porque somos egoístas e queremos tuuuudo de volta. Todo o desejo, o carinho, as expectativas atendidas e despertadas...


Nem sei se existe.
Sei o que eu sinto. Não nomeio na maioria das vezes.
Não curto muito esta separação, quase cartesiana, entre paixão e amor.
A impressão que dá que é a partir de algumas semanas, meses, pode ser amor, parece que não pode existir amor de um dia, isso é paixão.
Então deixe-me entender, posso amar meus pais, irmãos, amigos, mas amar um homem, só depois de algumas etapas? Antes disso é paixão?
Caramba, que complicado, parece fase, um jogo, parece que ganho vidas, ganho brigadeiros de Candy Crush quando a paixão vira amor.
B
obagem, dê o nome que quiser, o que sentimos, o que nos enriquece, nos ruboriza, dê o nome que quiser, viva-o, não esconda, ao menos para si.

Aceite o incidente.
Enlouqueça, por amor ou paixão, por um instante que seja.



Andréa Albuquerque, abril 2014