segunda-feira, 23 de junho de 2014

O menino e o jogo do Brasil.

Tem coisa mais própria da criança brasileira que uma bola de futebol, um jogo?
Futebol de várzea, de campinho, de gramínea, de terra, no morro, na praia, asfalto, uma pelada, descamisados, troca de uniformes, cores, suores, gritos, gols, calcanhares, chutes, apostas, sonhos que rolam, atravessam as traves, travessas crianças, travessos moleques.

Por um acaso eu não estava em frente à TV no jogo do Brasil na semana passada, dia 17/06, eu estava com o carro estacionado em frente a um hospital em SP, a radio CBN não me deixou excluída, nem sequer do sentimento de frustração...parece que a atuação da seleção não foi lá essas coisas.

Mas havia um menino ali que não estava ouvindo o rádio, nem a TV. Quantos meninos não estariam assim... ? Tudo me passava pela cabeça: quem ele aguardava, o quê? Um pai, um paciente, um gol, um médico, um parente, uma resposta, um país melhor? Ou nada, ali se distraia nas grades lambuzadas de horror, de esperança, de doença, de saúde, de cura. Era triste demais ver aquele menino...estava bem vestido, de nada importava, tanto pior não o estivesse, não nego, mas não tinha o jogo, o barro, a bola, nada. Ele mexia os pés, abaixava a cabeça, olhava entre os corrimões, não eram traves de gol... 

Dava vontade de tirá-lo dali, de preservá-lo de todo sofrimento. Ele sofria afinal? Preservar as crianças temos vontade, como se preservam presépios com esperança de uma benção. O garoto em frente ao hospital não estava lá dentro! Não era paciente, mas estava naquele momento. Um paciente poderia estar vendo o jogo, torcendo e sorrindo? Que saco mensurar qual criança está brincando menos, sorrindo mais, balançando as pernas, ou imóvel! 

Hoje eu vou torcer, por uma virada deste jogo, não havia um sorriso ali... 
Que o garoto da rua em frente ao hospital - será que ele gosta de futebol? - esteja brincando hoje. 
Toda criança merece isso.
Merece entrar no time, merece gol, e merece defesa!





Andréa Albuquerque

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