sábado, 8 de setembro de 2012

Fundamentos


Pode a maleabilidade dos limites se apresentar ao longo da vida?
Quão flexível será o material que estrutura primariamente o ser?
Ambivalência originária temos nós: a fragilidade egóica é proporcionalmente presente à dureza de nossos muros. Sejam esses barreiras institucionais, sejam aprisionamentos existenciais. 

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

A soma da subtração

O suprimido é isto, se historifica, é fotografia de ontem, é ausência na imagem de hoje e sempre uma possibilidade.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

São (mas nem tanto) Sebastião




De poucas lembranças da infância meu hoje é contemplado. O meu hoje é contemplado. O passado se anovela entre não saberes, entre incertezas se o que me vêm à mente foi vivido ou inventado.

Conservada em algum lugar e trazida à consciência, tomo a imagem da areia de cor bege, em um tom que acalma, eu poderia até mesmo apontar esse bege em uma escala Pantone. 

Posso sentir a umidade da areia e a maresia, o barulho que o mar faz, não somente no quebrar das ondas, mas desde quando se prepara para formá-las. 
O mar rouba a água que emprestou há pouco àquela faixa de areia, esse arrependimento tem um som, pronunciado quando arrasta o líquido com autoridade, mal conseguimos nos despedir da sensação gelada, ficam somente os pés afundados e o olhar para o mar pedindo mais, mais água, mais espuma, mais furinhos na areia, agora mais escura.

Posso sentir o medo de receber do mar algum bicho, escondido, rejeitado. Lembro-me da risada quando os siris apareciam. Adorava o esconde esconde nas tocas camufladas. A surpresa vinda do solo, a sensação de que as pessoas ocupavam um espaço que não era do homem, era do mar e daqueles siris. 

É pueril o fascínio por tudo isso, meu encanto por praia é uma memória deliciosa da minha vida, muito embora eu tenha minhas dúvidas se é memória ou invenção, uma viagem inventada ao passado. Uma viagem litorânea, ilhada, descolada da gente, do continente. 

Preciso tanto do real que desconfio dessas lembranças, mas são tão vívidas que podem passar sim por este crivo tão crítico que me acompanha. Afinal este amar o mar não é fanático, é neurótico. 
E os siris estavam lá.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

O prazer é seu!

Não tem jeito, estamos sempre em busca de prazer!

O prazer é algo que se passa em cada um de nós, apenas. Embora tenhamos a necessidade de compartilha-lo, embora muitas vezes sentimos prazer porque outra pessoa está, por exemplo, feliz, o prazer é algo que sentimos muito individualmente.

O prazer gratuito, aquele que acontece sem qualquer esforço é igualmente interessante, ou melhor, igualmente prazeroso. Bom, “igualmente” pode ser contestado, cada um sente a seu modo, mas prazer inesperado é muito bom mesmo.

Tem o prazer pelo qual batalhamos, uma nota boa após ter estudado bastante, ou o prazer ao ver que os números apontados na balança são absolutamente compatíveis com o esforço de uma dieta. Tem o prazer de uma promoção no trabalho, de aprender uma coisa nova, de nadar no mar, de viajar, de ficar em casa, de comer um brigadeiro, uma fruta, de ganhar uma competição, de finalizar uma maratona, de pertencer a algo.

Tem também o prazer vindo como "recompensa", voltando ao assunto “dieta”, tema o qual me sinto absolutamente confortável para falar, porque convivo com esta questão desde que me conheço por gente, uma vida de alegrias, angústias, tristezas e prazer; enfim, se a balança é bacana, podemos ter o prazer de ultrapassar alguns limites ou - vejam como prazer é subjetivo! - de fazer uma dieta ainda mais severa e esperar por números ainda mais simpáticos na balança. Deste modo adiaríamos o prazer imediato, o que, convenhamos, requer esforço, disciplina, maturidade, esse tipo de personalidade tem minha total admiração! Puxa, não é fácil! Assim como o prazer em economizar, isso requer planejamento e foco, vale a pena aprendermos com essas pessoas!

Muito grosseiramente podemos dizer que Freud chamou este adiamento de princípio de realidade, muitas vezes regido por condições impostas pelo mundo exterior a nós. É como se, dada a realidade, procurássemos prazer diante das coisas que se apresentam para nós, e não o contrário. Esta é uma estratégia delicada, pois de um lado temos de fazer planos, querer mais, ter novos objetivos, procurar nos transformarmos, por outro precisamos "curtir" aquilo que temos, que conquistamos, e fundamentalmente, aquilo que somos! É a satisfação daquilo que é real.

Efetivamente transitamos pelos antagonismos da vida. Que bom, porque tão saudável quanto aproveitarmos os prazeres que surgem, por esforço ou surpresa, é lidarmos com os dissabores da vida.

Se me permite uma dica, procure ter prazer com as coisas simples da vida, mas sonhe com as grandiosas!

Se me permite outra dica, procure viver em equilíbrio; e de vez em quando, abandone completamente esta ideia!

Beijos
Andréa


Escrito para - e também disponível no - portal: Uma Mãe das Arábias

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Ele, o esporte!


A gente fala tanto que as crianças têm de fazer várias atividades, mas outras vezes nos pegamos sufocando os pequenos; é natação, judô, inglês, reforço escolar, teatro, sei lá mais o quê, aliás, nem sei o que está em voga, como não tenho filhos faço uma referência ao que era moda na minha época.

Se por um lado o excesso de informações e atividades tira qualquer um do prumo, imagine o tanto de coisas que as crianças devem se preocupar por estarem sempre ocupadas. Lembremos da importância do brincar para a criança, é na brincadeira onde crescemos; mais adequadamente podemos dizer, pela brincadeira nos desenvolvemos!

De todo modo meu voto vai também – e principalmente - para o esporte.

Outro dia tive um aniversário de um amigo que conheci quando era criança, através do esporte, foi tão bacana porque várias pessoas que estavam ali eram amigos por causa do esporte, e muitos deles permaneceream neste ambiente, formaram-se em educação física e trabalham com isso.

Deve fazer mais ou menos uns 20 anos eu não estou neste meio, ou seja, que eu não faço esporte. Pronto, falei! Ai, é horrível dizer isso!

Bom, mas o fato é que percebi como aquele grupo se mantinha próximo, tivemos um passado juntos e aquilo fora suficiente para horas de conversas, falamos sobre nossas viagens juntos, aventuras, sobre a "nossa turma do esporte", muito bom!

Esporte tem grupo (mesmo os esportes individuais!), tem energia, disciplina, tem brincadeira, contato com a natureza, com o corpo, tem também o contato com as possibilidades, e também com os limites.

Falar sobre os benefícios da prática esportiva parece “chover no molhado”, mas vale a pena listarmos o quão bacana é  tudo isso é, foi assim para mim.

Eu gostava tanto que fiz um poema há.... credo! ...19 anos!!

Relendo o poema, notei que é uma das poucas escritas no passado...digamos, há mais de quatro anos, que eu não mudaria nada.

Uma vez o Edu, meu marido, me deu de presente um porta-joias pintado por ele, e o que ele desenhou e pintou, foi feito por causa deste poema!!

Se este texto fosse uma fábula, o preceito moral seria: apresente o esporte ao seu filho; dentro das possibilidades, incentive sempre sua prática!

 E como não poderia deixar de ser, o poema:

O mundo seria mais tranquilo se todas as

pessoas tivessem remado ao menos uma vez.

E durante esse ato quase previsível, inerte,

instintivo, sentissem o vento, ou o sol,

ou a chuva ou os três, mostrando sua cara na cara

de quem sente cada fibra do corpo sorrindo

bem perto da água, tranquila ou não.

E em quem percebe o caminho que os músculos seguem,

às vezes sem sintonia, quase errado,

às vezes cem sintonias, perfeito.

Não dá pra fingir quando se rema,

até dá, mas a mentira perde, perde feio,

e aí se perde muito e fica feio.

O mundo seria mais tranquilo se todas as

pessoas tivessem remado ao menos uma vez...

Os esquimós foram grandiosos

na construção de casas que os abrigavam do frio;

e elas eram de gelo.

Os esquimós... remam.


Beijos
Andréa

quinta-feira, 22 de março de 2012

O que representou, para mim, o professor Júlio César Voltarelli


Sempre que me refiro a algo sobre o trabalho que exerci na ONG Movitae (de incentivo às pesquisas com células-tronco) o faço na terceira pessoa do plural, e não poderia ser diferente, o projeto representava pacientes e seus familiares, e boa parte da comunidade científica.
Hoje não vou me furtar de explicitar o sentido que tem, para mim, esta perda.


O professor Julio Voltarelli foi o primeiro cientista, que não acompanhou diretamente a fundação da ONG e que acreditou no trabalho. Eu lembro quando ele comprou a primeira camiseta, simbolizando sua adesão, sua escolha em participar de tudo isso.

Lembro que era "fácil" ligar para ele, escrever, não tinha arrogância, tinha vontade. Era prazeroso ouvi-lo, ele falava sobre sua vida, não só sobre medicina, falava igual "a gente", tinha história, e a dividia.
O Professor teve inúmeros cargos de elevada representação acadêmica; para mim era o Julio, conselheiro da Movitae, cujo respeito e imensa admiração iam além da sua titulação.

A possibilidade de acesso a ele, a aproximação permitida, incentivada, foi fundamental para o bom resultado do trabalho da Movitae.

Eu sabia que ele era bom, bom na profissão que escolheu, que curou, que dava vontade de ficar conversando, que mostrou a diversos lugares do mundo - assim como muitos pesquisadores - que temos (agora sim falo em nome de todos!) privilegiado capital humano na ciência brasileira.

Eu sabia que ele era assim, humano, humanista ouso dizer, eu só não sabia que ele morreria algum dia.

Obrigada, professor e meu imenso carinho à sua família.

Andréa Albuquerque







domingo, 18 de março de 2012

Mundo virtual: faniquito!



Recebi um email da Barbara Saleh, querida editora do portal, lembrando-me que era dia de entrega de texto. 

Eu queria muito escrever sobre a importância do contato humano, mas não consigo fazê-lo da forma como eu gostaria: poeticamente; porque sempre que me refiro a este assunto, o faço em contraponto aos relacionamentos virtuais e aos relacionamentos das pessoas com a tecnologia, e não consegui ainda, versar sobre o tema.

Eu já comentei algumas vezes sobre o meu "problema" com a tecnologia, de tempos em tempos tenho algumas crises, que geram uma vontade imensa de apagar todos meus emails, sair do twitter, facebook, essas coisas. Certamente muito de vocês também têm essas crises. Me digam!

Três amigos queridos (reais e virtuais) - e que não se conhecem - informaram em seus perfis que deixariam as redes sociais. A ação não durou uma semana. Foram meus heróis durante sete dias!

Admiro também aqueles que nunca deram a primeira postada!

Sim, eu sei que o equilíbrio é tudo, que podemos tirar o melhor dos dois mundos, tal, tal, tal, é do que tentam me convencer quando tenho esses chiliques; mas chilique é chilique, é para ser radical mesmo.

Certa vez uma chefe falou que se ganhasse na mega sena, atiraria o computador do décimo primeiro andar, possivelmente eu abriria a janela para ajudá-la.

E assim se dá a relação de amor e ódio com a tecnologia, afinal têm coisas bacanas por aí, na rede, nos aparelhos modernos, mas hoje não é dia de defendê-los!

Ano passado me chamou muito a atenção uma matéria que dizia que para manter a concentração no nível máximo nos treinos, Cesar Cielo evitará a internet até o fim das olimpíadas de Londres.
Bastante relevante se pensarmos o que acarreta esse apego à tecnologia, não é mesmo?

Enfim, muito se tem falado sobre o excesso de informação que recebemos, de como isso é, com o perdão da redundância, excessivo, desgastante.

O chilique é, possivelmente, decorrente deste excesso, desta necessidade de estar ligada, não sei dizer, um pouco de culpa até, e olha que faço uso dessas redes com muita parcimônia.

Esta semana iniciei um curso, talvez eu escreva um dia sobre isso, hoje ainda quero absorver um pouco mais, mas devo adiantar que realmente nada substitui o contato humano.
Nada substitui o contato humano? Óbvio! Isso parece lugar comum, frase feita, mas a gente entra nesse ciclo tecnológico e frequentemente não se dá conta do quão vital é o contato real.

E com a ironia que a tecnologia e vida nos apresentam, aqui estou eu, falando com vocês, pelo computador, - e nem em tempo real é!

Mas tudo bem, a gente se vê, preferencialmente, pessoalmente!!

Beijos clicados e abraço apertado!
Andréa


18/03/2012
Escrito para - e também disponível no - portal: Uma Mãe das Arábias

domingo, 4 de março de 2012

Sombras sobre a infância


Li um texto belo e triste, mas como tudo o que nos coloca mais próximo à realidade, muito verdadeiro. Falava sobre o mito da infância feliz, não sei se antes disso eu havia parado, alguma vez, para pensar sobre o assunto, acho que muitas vezes nós todos pensamos em como é triste uma criança que não vai à escola, ou mesmo uma que vai à escola e sofre, que trabalha, que passa fome; mas quando pensamos assim imediatamente a deslocamos do mundo infantil para o mundo adulto, quando o correto é a deixarmos ali na infância, e ali ajudarmos.

Parece que nossa responsabilidade termina quando a transportamos para o mundo adulto, como se ela tivesse autonomia e força para fazer tudo sozinha, para mudar a própria realidade.
Como se ela não tivesse sido lançada ali, ou pior, como se o destino estivesse cumprindo seu papel e nós o nosso, observando; nosso destino de observadores, como se fosse um filme, e ao nos sentirmos incomodados, mudamos de canal, fechamos a janela, olhamos para baixo, para nada.

Em alguma medida somos absolutamente responsáveis, pelas ações e mais ainda pelas omissões, por responsabilizar o Estado e por ficarmos estáticos, imóveis.

É nossa responsabilidade sair deste estado parado para procurarmos compreender que existe sofrimento em todas as etapas da vida, e que nem sempre é uma escolha.
Somos nós os adultos, nós temos de chegar ao mundo da criança, da criança que não é feliz, ou ela nunca terá chance de chegar até o nosso mundo, adulto. De construir o seu mundo.

Falo deste modo, 'seu', 'meu', 'nosso', e temo parecer que tudo pode ser fragmentado, mas a idéia é mostrar, talvez de forma muito atrapalhada, que esses mundos coexistem, e são nessas interseções o espaço para nossas ações.
Quisera eu saber exatamente como mudar isso, como assistir sem desligar, sem se desligar, assistir no sentido de estar presente, como diz no dicionário, de acompanhar (prestar-lhe socorro).
Estou lançando, portanto, meu completo não saber acerca deste tema, estou compartilhando meu desconforto por ter pensado sempre no direito à felicidade da criança sem perceber que não basta pensar, que pensamento algum, sem movimento, a levará para um mundo onde haverá outras possibilidades, sonhos e novas realidades. 

04/03/2012
Escrito para - e também disponível no - portal: Uma Mãe das Arábias


domingo, 19 de fevereiro de 2012

A garantia do acesso à informação


            Os benefícios resultantes de qualquer pesquisa científica e suas aplicações devem ser compartilhados com a sociedade como um todo e, no âmbito da comunidade internacional, em especial com países em desenvolvimento. (Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos)
          
          A 15 dias de comemorarmos sete anos de pesquisas com células-tronco no Brasil, é de extrema necessidade idealizarmos uma maneira adequada de informar e oferecer suporte psicossocial aos pacientes de doenças degenerativas e a seus familiares. 
          A aprovação da Lei de Biossegurança, mais propriamente o artigo 5º, que trata das pesquisas com células-tronco embrionárias, foi um grande passo rumo a um país com mais possibilidades científicas, tecnológicas, médicas e econômicas.
            Tal aprovação foi um caso emblemático de mobilização social, que teve início no mês de janeiro do ano de 2003, quando a mídia – um elemento de extrema significância no processo democrático – ainda não havia tomado conhecimento de que este assunto, células-tronco, pudesse adentrar na esfera política brasileira.
            Muito embora tateando por acessar um universo ainda desconhecido, centenas de familiares e pessoas afetadas pelas mais diversas patologias, genéticas ou adquiridas, iniciaram ações para que as pesquisas com células-tronco embrionárias fossem aprovadas no Brasil.
            Porque se a maneira de se pesquisar, se a ciência em si, não era de conhecimento desta população, a esperança era uma velha companheira, colada em seus corpos, mentes e corações desde um diagnóstico, um acaso, um acidente automobilístico, um acidente genético, uma bala mirada, uma bala perdida encontrada nas costas de alguém.
            A esperança era, e é, uma língua conhecida e dominada por possivelmente mais de 25 milhões de brasileiros; e as palavras células-tronco e cura ficaram, nos últimos oito anos, muito próximas neste idioma.
            Suspendendo todos os aspectos políticos, jurídicos e econômicos – suspendendo-os e não os eliminando - que compuseram todo o processo da aprovação da Lei de Biossegurança, foi, em grande medida, a mobilização da sociedade civil que fez com que esta lei fosse aprovada.
            Contudo, e é este o tema central sobre o qual devemos nos debruçar, esta população guerreira, foi abandonada.
            O assunto “pesquisas com células-tronco” foi minguando e esta escassez contribuiu para que algo grave e efervescente tivesse início: a oferta de cura e tratamentos não aprovados pela comunidade científica.
            O termo vulgar, charlatanismo, é forte, mas seu significado - exploração da credulidade pública, inculcando ou anunciando cura por meio secreto ou infalível – precisa ser evidenciado para que possa ser combatido.
            Estejamos atentos, entretanto, que a situação atual é muito delicada; a força de vontade de tantas pessoas tem origem na fragilidade em que se encontram, pela deficiência, pela doença, pela finitude evidenciada.

            A esperança é o que move e isso deve permanecer.

            Toda situação de adoecimento comporta uma possibilidade de esperança, sempre; e quando efetivamente não a houver, o paciente haverá de inventá-la, não cabendo ao psicólogo nenhuma intervenção retificadora em nome de uma presumível realidade. Essa esperança deve ser mantida. (SIMONETTI, 2005, p.125)

            Foram a esperança e o inconformismo que deram coragem, criatividade e fizeram de um país católico um local repleto de possibilidades científicas.
            O tabu se desfez, mas a prática da enganação ganhou espaço. Nas comunidades de pacientes na internet pede-se dinheiro para ir à China, à Ucrânia.

            Somente a informação e o atendimento psicossocial poderão propiciar às pessoas com deficiência mais qualidade de vida, a migração a tratamentos inexistentes é muito mais complexo que um problema econômico, além de ser, evidentemente, um problema de saúde pública.
            Proponho que falemos sobre o tema, proposta justificada pela relevância social e porque a falta de informações é, em última análise, uma violação à Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos.

Referências bibliográficas:
Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos, Unesco, 2006. Disponível em http://unesdoc.unesco.org/images/0014/001461/146180por.pdf acessado em 30/10/2011

Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11105.htm acessado em 30/10/2011
SIMONETTI, A. 1959 - Manual de Psicologia Hospitalar: o mapa da doença. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.


segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Rumo aos 40


Outro dia estava em uma loja e o rapaz que me atendia perguntou se eu poderia aguardar. Falei: "Claro, não é nenhuma sangria desatada".
 "O quê?", perguntou o rapaz. Repeti, achando que, por conta da confusão, ele não tinha me escutado. Quando ele perguntou de novo percebi que havia escutando sim, mas pela primeira vez!  

E lá foi esta para a minha listinha rumo aos quarenta, 40 anos, lá onde dizem que a vida começa.

Manhã chuvosa de consulta médica...consulta médica pelo visto é um habitué com o fim dos "anos 30". Habitué - essa o rapaz da loja também nunca ouviu, muito provavelmente! Mas como eu ia dizendo, estava na consulta e o médico argumentou da seguinte forma o procedimento sugerido: "Na sua idade é o mais indicado".
Na minha idade o quê, qual? Por que sou muito velha ou muito nova para outro procedimento?
Não quis nem perguntar!

Eu lembro que meus 20 anos duraram muito tempo, não acabavam mais (e nunca reclamei disso!), mas com os 30 foi tão diferente, bateu um medo, uma sensação estranha, medo de fazer algumas coisas e parecer ridícula, medo de tudo passar rápido, e foi justamente, aos 35 que comecei a estudar de novo, fazer outra faculdade, sensação que mais parece uma receita, com vários ingredientes, ora feliz por ter muito mais certeza (não que não haja dúvidas!), ora chateada por ter demorado tanto para esta decisão.

De todo modo é interessante, a gente sente tudo de forma mais real, aprendemos coisas que já vivemos, reaprendemos.

Eu sou muito encanada com esta questão de idade, fico me policiando, vocês têm isso também?

Tomara que com eles, com os 40, venham também mudanças bonitas, mudança de profissão e, espero, menos preocupação com a idade, tomara que venha esta coisa bacana que vemos nos filmes, isso de mulher resolvida!

É isso aí, divertir-se é a palavra! Dia desses um professor comentou que muitos alunos não viram o Ayrton Senna competir! Nunca havia pensado sobre isso, eu que praticamente vi o Emerson Fittipaldi competir!

Não tem jeito, nem volta, tudo parece alertar que os quarenta estão chegando por aí, realmente caiu a ficha!

Caiu a ficha! Esta todos conhecem?

Beijos e mais especiais a toda turma dos “enta”!

Andréa

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Calçadas, Trampos, Cuidado e Despedida


Obs.: Texto escrito em Agosto de 2011


Oi, pessoal, tudo bem?

Hoje me dedico especialmente a este texto para o Na Luta.
Fiz uma baita confusão e me atrasei muito. O deadline, aquele prazo que os editores fornecem, ultrapassou mesmo.
Ocorre é que o último mês foi uma loucura, tinha uma cirurgia marcada, a data foi antecipada, e depois, cirurgia suspensa!
Não será mais necessária neste momento.
Ótima notícia!

Calçadas

Além disso, eu saí de férias (leia-se: fugi do frio) e fui para a Califórnia. Estou contando isso porque eu não consigo subir em um ônibus desses urbanos há 20 anos, isso mesmo, a última vez foi quando eu tinha 17 anos e bem mais força nas pernas. Gente, o que são esses degraus nos ônibus? Péssimos. São raros os ônibus acessíveis. Mas lá em Los Angeles, ai, que delícia, lá a gente saca que acessibilidade e liberdade são coisas muito próximas, liberdade é guia rebaixada, é calçada lisinha, é semáforo que indica quantos segundos temos para atravessar, é motorista que pára (mesmo) no sinal vermelho, liberdade é conseguir subir em todos os ônibus, é ter rampa até a praia, é ter banheiro acessível em qualquer boteco, é ter elevador nas lojas mais simples, mas se têm dois andares, tem elevador! 

Será que algum dia teremos isso aqui no Brasil? Esta liberdade, esta possibilidade de ir e vir, que existe de direito, mas não de fato? 

Hoje eu li que aqui em São Paulo será reforçado o programa de proteção ao pedestre, vamos torcer para que tudo melhore!

Trampos

A inacessibilidade é uma das razões pela qual, ainda hoje, pessoas com deficiência saem pouco de casa, por exemplo, para ir à escola. E ainda muitas escolas usam aquele discurso: "nós não estamos preparados para receber seu filho".

Dentre as conseqüências deste quadro temos baixa qualificação e empregabilidade ainda pior. 
E temos também o outro extremo. Muitas pessoas com deficiência não podem trabalhar em empresas sem acessibilidade e tampouco entrar como cotista por serem muito qualificados para tais cargos e/ou salário. 
Cotas? Não para cargos gerenciais. 
Este disparate precisa, enfim, ser desfeito, mas acredito que serão necessárias algumas gerações e lutas para que tenhamos uma situação em consonância com a demanda; uma realidade mais linear.

De todo modo, vemos hoje, muito coisa bacana acontecer, temos de passar por essas mudanças, este crescimento para o futuro, nosso e daqueles que virão.

Cuidado

Estamos num período de transição (e quando não estamos, não é mesmo?)

Vejamos o caso das pesquisas com células-tronco, nos últimos anos acompanhamos o início de muito estudo nesta área, mas ainda não chegamos ao dia no qual a terapia celular é uma opção corriqueira ou sequer uma opção de tratamento, isso ainda não acontece. (salvo o transplante de medula óssea)

Gente, de novo eu soube de casos de médicos que dizem aplicar células-tronco e cobram por isso. Cada um diz o que quer, o que a gente não pode é acreditar!

Sabe aquela dica de avó de sempre ouvir uma segunda opinião? Precisamos ouvir mesmo, duas, três, quatro. A internet pode nos ajudar tanto, mas cuidado porque esses charlatões têm sites lindinhos também! O fato é que não é tão difícil separar o joio do trigo, vou deixar no final do texto alguns sites que gosto bastante, onde dá para pesquisar e saber um pouco sobre o que está acontecendo em relação às pesquisas com células-tronco, de verdade.

Despedida

Já faz mais de seis anos que o direito de se fazer pesquisa científica com células embrionárias foi conquistado, e ainda me emociona. Quando entrei nessa de batalhar pela liberação das pesquisas com células-tronco embrionárias no Brasil, falar sobre isso parecia que se estava ofendendo alguém, ou que se desejava fazer coisas de ficção científica, tirando meu exagero, era quase isso, ninguém conhecia nada sobre o assunto.

Por esta razão tenho muito orgulho do trabalho da Movitae. Por hoje o assunto células-tronco ser mais conhecido, em diversas esferas, na educação, na imprensa, na política, na legislação. Hoje pesquisadores brasileiros podem trabalhar com mais material que antes, e com isso milhares de famílias podem, no futuro, ter mais saúde. 
Possivelmente nada, nada disso seria uma realidade se não tivesse havido a persistência do movimento social. 

Eu conheci o Na Luta por meio do Sr. Hermano Vianna, companheiro de luta, guerreiro durante o processo pela liberação das pesquisas, foram vários anos e quatro instâncias. Vencidas!

E por isso tomo a liberdade de através deste texto agradecer a cada família que esteve ao meu lado, a cada pessoa, principalmente à minha família, que aguentou tanta coisa; e me despeço com a 
tranquilidade de ter feito o máximo, e com a certeza de que muita gente boa batalhará por ainda mais avanços.

Foi uma honra imensa exercer este trabalho. 


Outro dia eu li que: saber a hora de parar e tão importante quanto lutar por aquilo que se ama.


Um beijo,
Andréa
andreabalb@gmail.com

PS: Texto publicado no informativo Na Luta - Edição 16 - pág. 16

Sites/blogs que indico:

domingo, 22 de janeiro de 2012

Big Blood Donor #bbd #bigblooddonor



Oiê, resolvi escrever este post rapidinho... ao estilo: chega de blá, blá, blá e BBB!
Aproveitando a onda global de galera jovem, e também a chegada do Carnaval (ocasião na qual os estoques dos bancos de sangue vão à míngua), nada mais propício que criarmos a Campanha BBD - Big Blood Donor!!


Com hastag e tudo!
#bbd #bigblooddonor


Tô muito maluca ou até que é interessante?! (os 2?)


Beijos,
Andréa



sábado, 14 de janeiro de 2012

Shift + Delete?

Levei um susto coletando alguns textos antigos para colocar aqui no blog. 
Virou garimpo. 
Nossa, e quando dá muita vergonha, e nem sequer alheia é, das coisas que você escreveu?!

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Dicas de Pai...



Fiquei muito emocionada quando li um post de uma amiga, aliás, de vários amigos que compartilharam recentemente uma matéria que saiu na revista Época em julho de 2011, a respeito de um pai que, ao saber de seu diagnóstico, e sobretudo de seu prognóstico, deixou várias coisas gravadas, presentes comprados, e também 28 valiosas lições escritas aos seus filhos, com 5 anos e 1 ano e meio à época da reportagem.

Chorei de emoção, de compaixão e de felicidade por também ter tido um pai que o fez. Que deixou tantas lições, maravilhosas. Meu pai morreu há quatro anos, e agora eu já estou melhor, um pouco melhor. Eu tive o que pode ser chamado de luto patológico, que não foi bem elaborado na ocasião, no dia eu estava bem, na semana eu estava "forte", tentando resolver várias coisas burocráticas que envolvem o tão conhecido ritual, e com isso me estrepei, quando todos "voltaram ao normal", eu estava péssima.

Meu pai foi um homem determinado, desbravador, centrado, correto, ético e muito, muito bem humorado. Certamente ele ficaria puto da vida se me visse sofrendo. "Filha, pára com isso, já passou", ele falaria. Mas eu não conseguia. Bem da verdade ainda não consigo falar muito, ver fotos, e sem sombra de dúvida quero trucidar meus irmãos que ficam passando vídeos familiares. Aff... Mas estou melhor (vou repetir isso 100 vezes!). 
Eu não vou dizer que devo isso a ele, não devo nada, nem ele deveu, se superou neste sentido, viveu intensamente! Nada deixou de ser dito, isso é maravilhoso!

E esta é uma dica: procure dizer as coisas, dividir. Se você ama ou está bravo, diga. Não espere muito.

Eu lembro quando me apaixonei pela primeira vez, eu tinha 13 anos e meu pai me viu chorando de amor e saudade. Ele falou algo do tipo: "Todos passam por isso, isso é vida". E completou: "Só os vermes não caem". Já pensou? Esse era o meu pai.
Ele não se deixava abater. Quando nossa casa inundou (sim, inundou 1,5m!) eu me lembro de ter implorado para mudarmos. Ele amava a casa e disse que não sairia de lá, colocou comporta, filmou, arrumou tudo, processou os órgãos responsáveis pela falta de vazão e continuamos lá!

Ele era teimoso prá caramba! E estava sempre fazendo planos, vivia o presente e pensava com otimismo no futuro. Como eu o admirava por isso!
Eu admirava e amava, amo, tudo em meu pai, até seus defeitos (prefiro chamar de 'características'!), como o seu temperamento tão pouco maleável às vezes, aliás puxei 100% isso dele!!
Quisera eu ter herdado também sua excelente memória, sua disciplina monástica em relação a inúmeros aspectos da vida, impressionante. Sua dedicação ao trabalho, sua cultura. E certamente eu queria muito ter nascido com os olhos tão verdes quanto os dele.

Caramba, ô homem que viveu mesmo, viu. Além do gênio turrão, eu puxei a paixão por viagem e por praia, por mais caseiro que ele fosse, meu pai sempre falou em viagens, viajou muito e me incentivou a ir a diversos lugares.

A reportagem que me motivou a escrever este texto fala sobre as lições deixadas por um pai, então vou deixar uma aqui também, que aprendi com o meu pai, a de fazer planos, sempre. Realizá-los ou não, alcançá-los ou não, por qualquer motivo que impeça é uma outra coisa, mas planejar o futuro é muito importante.
Devo confessar que preciso melhorar muito neste aspecto, digamos que essa possa ser uma resolução para 2012!

E esta é então minha segunda dica: procure fazer planos para o futuro, para daqui a um minuto, para amanhã, para os próximos cinco ou cinquenta anos.

De novo, realizar são outros quinhentos, mas temos de começar de algum modo, né?

Se meu pai me disse isso alguma vez? Nunca! Ele simplesmente agia assim. Ensinou  isso com o exemplo. Mostrou isso a todos nós.

Então em respeito a nós dois eu vou tentar me sair melhor nesta área! Prometo!

Vai seguir nossas dicas? As do pai da reportagem, do meu pai e a minha? Eu vou! 
E não é que este, por si só, já é um bom plano?!

Beijos.


Confira também os textos no portal: Uma Mãe das Arábias

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Amore!

Edu, 
Feliz 2012!


Cumplicidade


Hoje recebi uma visita super especial, tudo bem, foi pelo Facebook, modo que eu tanto critico, né? De toda forma foi muito bacana. Foi de um amigo que não vejo há tanto tempo, um amigo de luta.
Ele escreveu um livro e pedia meu endereço para o envio de um exemplar. No mesmo instante, lembrei de tantas coisas que passamos juntos, apreensões, surpresas boas, fracassos, vitórias. Ainda não li o livro, claro, mas quando li seu recado: "Tenho como novidade o livro que saiu do forno", fiquei imaginando se algumas de nossas vivências estariam ali descritas.

Vivências interpessoais fazem cúmplices.
A gente costuma dizer: "você não pode imaginar...", o fato é que imaginar pode, mas lembrar, rememorar, isso não, isso só os cúmplices podem, o que os torna íntimos para sempre.
É bonito, e de certo modo um alívio, saber que outra pessoa compartilhou algo tão forte com você. Parece que uma testemunha nos coloca tão seguramente numa base, como se pudéssemos dizer "Você viu! Você também estava lá”; e ouvisse a resposta mais prazerosa do mundo: "Sim, eu vi, eu também estava lá e estou aliviado que você sinta o mesmo”. Tudo isso porque por mais que saibamos da solidão a qual estamos destinados, "somos criaturas intrinsecamente sociais", como diz Yalom¹.

E compartilhar, repartir, torna tudo mais real.
A luta que vivi com este meu amigo – e com algumas outras pessoas tão queridas – fez parte do trabalho desenvolvido na ONG, parte da batalha pela liberação das pesquisas com células-tronco no Brasil.
Hoje vemos o resultado deste trabalho, ainda bem! Mas o rudimento, essencial e elementar, foi uma experiência realmente marcante, pouco planejada, eu diria, vivida por algumas pessoas com muita intensidade.
Será que alguma dessas vivências estará no livro? Talvez!
Desde já agradeço o exemplar, meu amigo.
Este texto foi escrito porque estávamos juntos lá e, sobretudo por você ter estado aqui hoje. Que bom!


YALOM, Irvin D. Os desafios da terapia. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006. (p. 57)