Li um texto belo e triste, mas como tudo o que nos coloca mais próximo à realidade, muito verdadeiro. Falava sobre o mito da infância feliz, não sei se antes disso eu havia parado, alguma vez, para pensar sobre o assunto, acho que muitas vezes nós todos pensamos em como é triste uma criança que não vai à escola, ou mesmo uma que vai à escola e sofre, que trabalha, que passa fome; mas quando pensamos assim imediatamente a deslocamos do mundo infantil para o mundo adulto, quando o correto é a deixarmos ali na infância, e ali ajudarmos.
Parece que nossa responsabilidade termina quando a transportamos para o mundo adulto, como se ela tivesse autonomia e força para fazer tudo sozinha, para mudar a própria realidade.
Como se ela não tivesse sido lançada ali, ou pior, como se o destino estivesse cumprindo seu papel e nós o nosso, observando; nosso destino de observadores, como se fosse um filme, e ao nos sentirmos incomodados, mudamos de canal, fechamos a janela, olhamos para baixo, para nada.
Em alguma medida somos absolutamente responsáveis, pelas ações e mais ainda pelas omissões, por responsabilizar o Estado e por ficarmos estáticos, imóveis.
É nossa responsabilidade sair deste estado parado para procurarmos compreender que existe sofrimento em todas as etapas da vida, e que nem sempre é uma escolha.
Somos nós os adultos, nós temos de chegar ao mundo da criança, da criança que não é feliz, ou ela nunca terá chance de chegar até o nosso mundo, adulto. De construir o seu mundo.
Falo deste modo, 'seu', 'meu', 'nosso', e temo parecer que tudo pode ser fragmentado, mas a idéia é mostrar, talvez de forma muito atrapalhada, que esses mundos coexistem, e são nessas interseções o espaço para nossas ações.
Quisera eu saber exatamente como mudar isso, como assistir sem desligar, sem se desligar, assistir no sentido de estar presente, como diz no dicionário, de acompanhar (prestar-lhe socorro).
Estou lançando, portanto, meu completo não saber acerca deste tema, estou compartilhando meu desconforto por ter pensado sempre no direito à felicidade da criança sem perceber que não basta pensar, que pensamento algum, sem movimento, a levará para um mundo onde haverá outras possibilidades, sonhos e novas realidades.
04/03/2012
Escrito para - e também disponível no - portal: Uma Mãe das Arábias
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