quarta-feira, 25 de junho de 2014

Vertente


Ver e ter são igualmente próximos e antagônicos quando se trata 

da realização do amor.

Apenas o tempo é barragem para o desaguar da paixão, 

mas quem pensa nisso quando o sentimento verte com a força?



A.Albuquerque

segunda-feira, 23 de junho de 2014

O menino e o jogo do Brasil.

Tem coisa mais própria da criança brasileira que uma bola de futebol, um jogo?
Futebol de várzea, de campinho, de gramínea, de terra, no morro, na praia, asfalto, uma pelada, descamisados, troca de uniformes, cores, suores, gritos, gols, calcanhares, chutes, apostas, sonhos que rolam, atravessam as traves, travessas crianças, travessos moleques.

Por um acaso eu não estava em frente à TV no jogo do Brasil na semana passada, dia 17/06, eu estava com o carro estacionado em frente a um hospital em SP, a radio CBN não me deixou excluída, nem sequer do sentimento de frustração...parece que a atuação da seleção não foi lá essas coisas.

Mas havia um menino ali que não estava ouvindo o rádio, nem a TV. Quantos meninos não estariam assim... ? Tudo me passava pela cabeça: quem ele aguardava, o quê? Um pai, um paciente, um gol, um médico, um parente, uma resposta, um país melhor? Ou nada, ali se distraia nas grades lambuzadas de horror, de esperança, de doença, de saúde, de cura. Era triste demais ver aquele menino...estava bem vestido, de nada importava, tanto pior não o estivesse, não nego, mas não tinha o jogo, o barro, a bola, nada. Ele mexia os pés, abaixava a cabeça, olhava entre os corrimões, não eram traves de gol... 

Dava vontade de tirá-lo dali, de preservá-lo de todo sofrimento. Ele sofria afinal? Preservar as crianças temos vontade, como se preservam presépios com esperança de uma benção. O garoto em frente ao hospital não estava lá dentro! Não era paciente, mas estava naquele momento. Um paciente poderia estar vendo o jogo, torcendo e sorrindo? Que saco mensurar qual criança está brincando menos, sorrindo mais, balançando as pernas, ou imóvel! 

Hoje eu vou torcer, por uma virada deste jogo, não havia um sorriso ali... 
Que o garoto da rua em frente ao hospital - será que ele gosta de futebol? - esteja brincando hoje. 
Toda criança merece isso.
Merece entrar no time, merece gol, e merece defesa!





Andréa Albuquerque

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Mesmo em chão arenoso, e talvez principalmente, somos autores da própria vida.

Um desabafo, uma reflexão.


A absoluta certeza (isso é quase redundante!) de não querer ter filhos é algo que sempre me acompanhou, e olha que não é fácil ficar provando que você é uma pessoa "normal", que isso não te faz menos mulher, menos humana. Até pelo fato de eu gostar de crianças, gostar de gente, a decisão sempre causou estranhamento. O que é uma chatice, diga-se de passagem. 
Mas eu carregava com propriedade esta opção, poucas foram as vezes que tive de ratificá-la para mim mesma. Em uma consulta, há bastante tempo, uma médica falou que eu era/estava muito fértil, essa informação me encheu de uma espécie de "poder", é quase uma brincadeira egóica que acontece com a gente - com nosso corpo e alma (sem a separação cartesiana). Eu tinha tudo nas mãos: a fertilidade e a decisão de não utilizá-la. 

Não sei explicar como isso funcionava ou o sentido atribuído a este afeto, mas dava uma sensação de controle, de ter "tudo", toda a feminilidade, todas as possibilidades diante de mim. 

Nos últimos meses eu passei por muitas mudanças, o movimento da vida é constante, alguns, entretanto, emergem como uma jubarte no mar tranquilo, sua vida está em um barco ali perto e você sente aquela ruptura no meio do oceano, é um susto, e você é capaz de sentir o gosto salgado que alcança a boca, que te atinge por inteiro, que te falta o ar. 


Que ironia, te falta o ar justamente quando a jubarte respira. Quando algo rompe no meio do caminho e desancora as suas certezas. 

Como ensina Sartre: somos escolha a cada instante. 
A liberdade que eu tive até hoje, parece ter sido cessada por um muro, pelo muro da facticidade. 
Sartre diz que "somos condenados à liberdade", a impressão que tenho é que toda a responsabilidade das minhas escolhas ficaram submersas no dia a dia, cujas consequências foram varridas desta inundação e apareceram agora como conchas claras na areia escura. É possível vê-las nitidamente

Em outra consulta, mais recente, fui informada sobre a necessidade médica de ser submetida à histerectomia (retirada do útero). É uma coisa maluca quando o médico fala: "você não teve filhos por opção?" 
Sim! Até agora!

Só que agora não é mais uma opção, não a opção de ter ou não filhos, existem outras formas para isso, mas sim a possibilidade de gestar.
O que discuto aqui é muito mais cru que o sentido da maternidade, é mais que isso, ou muito menos que isso se nos detivermos à beleza do cuidado com o outro. O que discuto aqui talvez seja o oposto da doação, talvez seja o egoísmo, o poder ter e não ter, por escolha. Até agora.

O empoderamento que sustentou tão contundente decisão ao longo da vida, sai de você no girar da maçaneta do consultório, e isso nada te alivia, te fragiliza por completo.

O bom é que te transporta à vida "real", podemos passar tanto tempo sem o desvelamento da importância de nossas escolhas. O sopro gritante da jubarte no mar da vida me fez mais responsável e certa de que somente nós somos autores de nossos percursos.

Eu jamais poderia me imaginar lendo vários artigos, na qualidade de paciente e não de psicóloga, sobre os aspectos psicológicos da histerectomia. 
Que pensamento prepotente. 

Curioso, para todo procedimento médico existe o TCLE, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, é muito interessante, cada palavra é análoga à situação, eu gosto muito de um dos inúmeros significados da palavra "termo", que é marco divisório, balizamento. Numa brincadeira etimológica o TCLE traz o existencialismo e a existência numa folha de papel, A vida não te permite delegar nada, você está só, você entrega por escolha (e necessidade) seu corpo aos cuidados de outra pessoa, mas a responsabilidade é sua, você a compartilha, livremente.

Ah...Sartre, bem que você avisou a todos nós que "O homem nada mais é do que aquilo que ele faz de si mesmo". 

E assim, fragilizada, mas viva, consciente, aguardando o mergulho da jubarte eu assinei. Sim, eu autorizo. 


Andréa Albuquerque, junho 2014

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Dinheiro de Jogo - só um pedaço da Copa

Enquanto isso um prêmio de R$ 1,1 milhão para cada atleta em caso de título...
Um pouco confuso para mim as prioridades estabelecidas...
Não interessa, neste momento, a origem do montante, a origem é nossa. Nós pagamos! Mas eu não quero pagar!!!
Também não tô aqui para fazer discursinho de não investir em esporte, tanto o contrário, a questão é o que é prioridade, o que é marketing e o que é a vontade de livrar este país do mal do imediatismo.
Temos, por exemplo, centenas de atletas sem apoio, os "não-futebolistas", com potencial para 2016, para 2020, ou apenas para terem acesso ao lazer, à educação e à cidadania através do esporte...
Teríamos a possibilidade de, com este dinheiro, pulverizar muitas cidades com pequenas oficinas com atividades esportivas... mas não...não...não.
US$ 500 mil para cada membro da equipe é dinheiro demais, dá uma agonia, é um desperdício, um mal investimento, uma despreocupação social, dá um nó na garganta.....