quinta-feira, 22 de março de 2012

O que representou, para mim, o professor Júlio César Voltarelli


Sempre que me refiro a algo sobre o trabalho que exerci na ONG Movitae (de incentivo às pesquisas com células-tronco) o faço na terceira pessoa do plural, e não poderia ser diferente, o projeto representava pacientes e seus familiares, e boa parte da comunidade científica.
Hoje não vou me furtar de explicitar o sentido que tem, para mim, esta perda.


O professor Julio Voltarelli foi o primeiro cientista, que não acompanhou diretamente a fundação da ONG e que acreditou no trabalho. Eu lembro quando ele comprou a primeira camiseta, simbolizando sua adesão, sua escolha em participar de tudo isso.

Lembro que era "fácil" ligar para ele, escrever, não tinha arrogância, tinha vontade. Era prazeroso ouvi-lo, ele falava sobre sua vida, não só sobre medicina, falava igual "a gente", tinha história, e a dividia.
O Professor teve inúmeros cargos de elevada representação acadêmica; para mim era o Julio, conselheiro da Movitae, cujo respeito e imensa admiração iam além da sua titulação.

A possibilidade de acesso a ele, a aproximação permitida, incentivada, foi fundamental para o bom resultado do trabalho da Movitae.

Eu sabia que ele era bom, bom na profissão que escolheu, que curou, que dava vontade de ficar conversando, que mostrou a diversos lugares do mundo - assim como muitos pesquisadores - que temos (agora sim falo em nome de todos!) privilegiado capital humano na ciência brasileira.

Eu sabia que ele era assim, humano, humanista ouso dizer, eu só não sabia que ele morreria algum dia.

Obrigada, professor e meu imenso carinho à sua família.

Andréa Albuquerque







domingo, 18 de março de 2012

Mundo virtual: faniquito!



Recebi um email da Barbara Saleh, querida editora do portal, lembrando-me que era dia de entrega de texto. 

Eu queria muito escrever sobre a importância do contato humano, mas não consigo fazê-lo da forma como eu gostaria: poeticamente; porque sempre que me refiro a este assunto, o faço em contraponto aos relacionamentos virtuais e aos relacionamentos das pessoas com a tecnologia, e não consegui ainda, versar sobre o tema.

Eu já comentei algumas vezes sobre o meu "problema" com a tecnologia, de tempos em tempos tenho algumas crises, que geram uma vontade imensa de apagar todos meus emails, sair do twitter, facebook, essas coisas. Certamente muito de vocês também têm essas crises. Me digam!

Três amigos queridos (reais e virtuais) - e que não se conhecem - informaram em seus perfis que deixariam as redes sociais. A ação não durou uma semana. Foram meus heróis durante sete dias!

Admiro também aqueles que nunca deram a primeira postada!

Sim, eu sei que o equilíbrio é tudo, que podemos tirar o melhor dos dois mundos, tal, tal, tal, é do que tentam me convencer quando tenho esses chiliques; mas chilique é chilique, é para ser radical mesmo.

Certa vez uma chefe falou que se ganhasse na mega sena, atiraria o computador do décimo primeiro andar, possivelmente eu abriria a janela para ajudá-la.

E assim se dá a relação de amor e ódio com a tecnologia, afinal têm coisas bacanas por aí, na rede, nos aparelhos modernos, mas hoje não é dia de defendê-los!

Ano passado me chamou muito a atenção uma matéria que dizia que para manter a concentração no nível máximo nos treinos, Cesar Cielo evitará a internet até o fim das olimpíadas de Londres.
Bastante relevante se pensarmos o que acarreta esse apego à tecnologia, não é mesmo?

Enfim, muito se tem falado sobre o excesso de informação que recebemos, de como isso é, com o perdão da redundância, excessivo, desgastante.

O chilique é, possivelmente, decorrente deste excesso, desta necessidade de estar ligada, não sei dizer, um pouco de culpa até, e olha que faço uso dessas redes com muita parcimônia.

Esta semana iniciei um curso, talvez eu escreva um dia sobre isso, hoje ainda quero absorver um pouco mais, mas devo adiantar que realmente nada substitui o contato humano.
Nada substitui o contato humano? Óbvio! Isso parece lugar comum, frase feita, mas a gente entra nesse ciclo tecnológico e frequentemente não se dá conta do quão vital é o contato real.

E com a ironia que a tecnologia e vida nos apresentam, aqui estou eu, falando com vocês, pelo computador, - e nem em tempo real é!

Mas tudo bem, a gente se vê, preferencialmente, pessoalmente!!

Beijos clicados e abraço apertado!
Andréa


18/03/2012
Escrito para - e também disponível no - portal: Uma Mãe das Arábias

domingo, 4 de março de 2012

Sombras sobre a infância


Li um texto belo e triste, mas como tudo o que nos coloca mais próximo à realidade, muito verdadeiro. Falava sobre o mito da infância feliz, não sei se antes disso eu havia parado, alguma vez, para pensar sobre o assunto, acho que muitas vezes nós todos pensamos em como é triste uma criança que não vai à escola, ou mesmo uma que vai à escola e sofre, que trabalha, que passa fome; mas quando pensamos assim imediatamente a deslocamos do mundo infantil para o mundo adulto, quando o correto é a deixarmos ali na infância, e ali ajudarmos.

Parece que nossa responsabilidade termina quando a transportamos para o mundo adulto, como se ela tivesse autonomia e força para fazer tudo sozinha, para mudar a própria realidade.
Como se ela não tivesse sido lançada ali, ou pior, como se o destino estivesse cumprindo seu papel e nós o nosso, observando; nosso destino de observadores, como se fosse um filme, e ao nos sentirmos incomodados, mudamos de canal, fechamos a janela, olhamos para baixo, para nada.

Em alguma medida somos absolutamente responsáveis, pelas ações e mais ainda pelas omissões, por responsabilizar o Estado e por ficarmos estáticos, imóveis.

É nossa responsabilidade sair deste estado parado para procurarmos compreender que existe sofrimento em todas as etapas da vida, e que nem sempre é uma escolha.
Somos nós os adultos, nós temos de chegar ao mundo da criança, da criança que não é feliz, ou ela nunca terá chance de chegar até o nosso mundo, adulto. De construir o seu mundo.

Falo deste modo, 'seu', 'meu', 'nosso', e temo parecer que tudo pode ser fragmentado, mas a idéia é mostrar, talvez de forma muito atrapalhada, que esses mundos coexistem, e são nessas interseções o espaço para nossas ações.
Quisera eu saber exatamente como mudar isso, como assistir sem desligar, sem se desligar, assistir no sentido de estar presente, como diz no dicionário, de acompanhar (prestar-lhe socorro).
Estou lançando, portanto, meu completo não saber acerca deste tema, estou compartilhando meu desconforto por ter pensado sempre no direito à felicidade da criança sem perceber que não basta pensar, que pensamento algum, sem movimento, a levará para um mundo onde haverá outras possibilidades, sonhos e novas realidades. 

04/03/2012
Escrito para - e também disponível no - portal: Uma Mãe das Arábias