A primeira vez que fui procurar emprego, eu não tinha completado 12 anos. Uma amiga e eu saímos, com o uniforme do colégio, e fomos bater na porta das escolinhas do bairro, com a ideia de nos aceitarem como auxiliares de classe.
Isso foi no ano de 1984, naquela época ainda líamos, no famigerado caderno de empregos, anúncios que diziam "necessário ter boa aparência", o que invariavelmente significava ser branca, magra, heterossexual e sem deficiência. Não que essas características não formem o perfil do candidato desejado por muitas empresas ainda hoje, mas saiu dos classificados para os envoltórios dos empregadores mais restritos.
À época não havia o frescor que a nomenclatura Gestão de Pessoas trouxe nos anos 1990. Muito embora trabalhava-se a ideia de recursos humanos com mais respeito aos trabalhadores que nos anos anteriores, a subserviência era o caminho da correção, o caminho acertado. A administração de recursos humanos atendia à legislação, à distribuição do "contracheque" e quem atendia as angústias de um clima laboral doente, era ninguém.
A relação empresa x funcionário (que aliás muda de denominação à vontade dos ventos), passou por muitas transformações, assim como a área de recursos humanos em si, que foi ganhando mais espaço; o "pedaço" das organizações que cuidava do que recebia o nome de capital humano, passou a dar pitaco nas metas da empresa. Já estamos em meados dos anos 1990, década na qual foi cunhado o termo business partner; mesmo período em que as melhores práticas começam a ser divulgadas, e premiadas. Os candidatos passam então a escolher onde a grama cresce mais verde.
Hoje uma geração para a qual era impensável pedir emprego aos 11 anos, invade os gramados organizacionais, derruba as divisórias Eucatex e traz uma coisa que eu amo, que é poder rir no trabalho! Os millennials (mais uma terminologia!) trazem muitos novos entendimentos que vingam o mundo departamental e cinza que seus pais, avôs e bisavôs vivenciaram.
Mas ressalto que poder rir é muito emblemático, mesmo que ninguém o faça, a permissão é repleta de significados, de gostar do que faz e onde faz, por exemplo.
Alteram-se, portanto, ao longo do tempo, as formas de trabalho, os pactos relacionais, a disposição das mesas. Os teclados se tornam flexíveis, os horários idem, escritórios ficam cheios de cores, os cafés têm diversos sabores, mas ainda temos muito a evoluir, sempre teremos; porque por mais siglas que tenhamos construído, tudo diz respeito a gente, à vida das pessoas, à subjetividade dos patrões e empregados, isso não muda se dissermos líderes e colaboradores, afinal vida pessoal e vida profissional pode funcionar como regra, como comportamento exigido, como trato social, claro que pode,
mas quando se trata do que se sente, de estar alegre ou triste, de se sentir orgulhoso ou humilhado, crachá não faz diferença, humor não respeita relógio de ponto nem cartão na catraca, portanto a compreensão da pluralidade, e o respeito às singularidades, é o que podemos fazer de melhor.
Sim, uma das escolinhas nos chamou, a mesma onde hoje estuda a filha desta minha parceira de candidatura. Onde ela aprende que criança não pode trabalhar. Tudo muda, às vezes é para melhor, às vezes não, as transformações podem partir de cada um de nós.
A experiência da transformação é enriquecedora, e isso será sempre contemporâneo.
Nota da autora.: Este texto é um recorte apenas, de um contexto laboral da generalidade, sem rigor acadêmico. Sabemos que existem (ainda) relações de trabalho impensáveis, que precisam ser expostas e cuidadas, com mais profundidade.
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