quarta-feira, 1 de junho de 2016

O manifesto do manifesto II

Estranhe a si mesmo ao acessar o outro através do respeito, tolere, tolere a si mesmo também, discorde do que você achava, mude, ouse, arrisque-se a ter mais dúvidas que certezas.
Dois dias separam a 24ª edição da MARCHA PARA JESUS, da 20ª edição da PARADA DO ORGULHO LGBT.
Fico pensando se muitas pessoas celebram os dois eventos. 
Pois bem, eu não sou evangélica, não sou católica, na verdade não sou cristã, também não sou lésbica, não sou gay, não sou bissexual, não sou travesti, nem transexual, não sou transgênero. Nada disso me define, mas tudo isso me forma, porque sou humana, porque sou cidadã. Tudo faz parte de mim, sou gente, como você é. 
Você pode não ter uma deficiência física, por exemplo, mas a minha deficiência te afeta de alguma forma, porque quando eu peço um mundo sem escadas, você percebe que rampas também te levam lá. 


Se você é vegana, eu quero conhecer o seu lugar predileto para jantar, porque se faz parte de você, é diferente e é importante para mim.
Quero poder tirar os sapatos na sua mesquita, reconhecer o mihab, quero batucar no terreiro, poder citar o Torá, cruzar as pernas em lótus, tocar no relicário de Buda e nas contas do rosário, receber um passe, conhecer.

Meu ceticismo não subtrai a beleza de seu rito de fé.

Oxalá praticássemos mais e mais a capacidade de reconhecermo-nos na igualdade de cada um ser diferente de todas as outras pessoas, e na beleza disso, "o bonito não é ser igual, é ser diferente", nos ensinou Darci Ribeiro.

Você não precisa gostar do que eu penso, mas pode ser interessante compreender como cheguei até ali. Pode odiar quando uso lilás, mas me abraça mesmo assim, porque está com saudade, porque eu sou mais que uma cor, somos coloridos.
Ei, não estou defendendo agressividade aos nossos limites, temos nossos muros morais, nossos valores, que quando deparados com o oposto, inconforma-se, eu tenho muito isso; aí me afasto, e sigo, caminhando na ambiguidade do desânimo e da esperança. O que eu defendo é a coragem de ouvir coisas novas, sem preconceitos.

Busque a empatia, porque é um desperdício agarrar-se na polarização em um mundo tão plural.


Andréa Albuquerque​

Nenhum comentário:

Postar um comentário