quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Calçadas, Trampos, Cuidado e Despedida


Obs.: Texto escrito em Agosto de 2011


Oi, pessoal, tudo bem?

Hoje me dedico especialmente a este texto para o Na Luta.
Fiz uma baita confusão e me atrasei muito. O deadline, aquele prazo que os editores fornecem, ultrapassou mesmo.
Ocorre é que o último mês foi uma loucura, tinha uma cirurgia marcada, a data foi antecipada, e depois, cirurgia suspensa!
Não será mais necessária neste momento.
Ótima notícia!

Calçadas

Além disso, eu saí de férias (leia-se: fugi do frio) e fui para a Califórnia. Estou contando isso porque eu não consigo subir em um ônibus desses urbanos há 20 anos, isso mesmo, a última vez foi quando eu tinha 17 anos e bem mais força nas pernas. Gente, o que são esses degraus nos ônibus? Péssimos. São raros os ônibus acessíveis. Mas lá em Los Angeles, ai, que delícia, lá a gente saca que acessibilidade e liberdade são coisas muito próximas, liberdade é guia rebaixada, é calçada lisinha, é semáforo que indica quantos segundos temos para atravessar, é motorista que pára (mesmo) no sinal vermelho, liberdade é conseguir subir em todos os ônibus, é ter rampa até a praia, é ter banheiro acessível em qualquer boteco, é ter elevador nas lojas mais simples, mas se têm dois andares, tem elevador! 

Será que algum dia teremos isso aqui no Brasil? Esta liberdade, esta possibilidade de ir e vir, que existe de direito, mas não de fato? 

Hoje eu li que aqui em São Paulo será reforçado o programa de proteção ao pedestre, vamos torcer para que tudo melhore!

Trampos

A inacessibilidade é uma das razões pela qual, ainda hoje, pessoas com deficiência saem pouco de casa, por exemplo, para ir à escola. E ainda muitas escolas usam aquele discurso: "nós não estamos preparados para receber seu filho".

Dentre as conseqüências deste quadro temos baixa qualificação e empregabilidade ainda pior. 
E temos também o outro extremo. Muitas pessoas com deficiência não podem trabalhar em empresas sem acessibilidade e tampouco entrar como cotista por serem muito qualificados para tais cargos e/ou salário. 
Cotas? Não para cargos gerenciais. 
Este disparate precisa, enfim, ser desfeito, mas acredito que serão necessárias algumas gerações e lutas para que tenhamos uma situação em consonância com a demanda; uma realidade mais linear.

De todo modo, vemos hoje, muito coisa bacana acontecer, temos de passar por essas mudanças, este crescimento para o futuro, nosso e daqueles que virão.

Cuidado

Estamos num período de transição (e quando não estamos, não é mesmo?)

Vejamos o caso das pesquisas com células-tronco, nos últimos anos acompanhamos o início de muito estudo nesta área, mas ainda não chegamos ao dia no qual a terapia celular é uma opção corriqueira ou sequer uma opção de tratamento, isso ainda não acontece. (salvo o transplante de medula óssea)

Gente, de novo eu soube de casos de médicos que dizem aplicar células-tronco e cobram por isso. Cada um diz o que quer, o que a gente não pode é acreditar!

Sabe aquela dica de avó de sempre ouvir uma segunda opinião? Precisamos ouvir mesmo, duas, três, quatro. A internet pode nos ajudar tanto, mas cuidado porque esses charlatões têm sites lindinhos também! O fato é que não é tão difícil separar o joio do trigo, vou deixar no final do texto alguns sites que gosto bastante, onde dá para pesquisar e saber um pouco sobre o que está acontecendo em relação às pesquisas com células-tronco, de verdade.

Despedida

Já faz mais de seis anos que o direito de se fazer pesquisa científica com células embrionárias foi conquistado, e ainda me emociona. Quando entrei nessa de batalhar pela liberação das pesquisas com células-tronco embrionárias no Brasil, falar sobre isso parecia que se estava ofendendo alguém, ou que se desejava fazer coisas de ficção científica, tirando meu exagero, era quase isso, ninguém conhecia nada sobre o assunto.

Por esta razão tenho muito orgulho do trabalho da Movitae. Por hoje o assunto células-tronco ser mais conhecido, em diversas esferas, na educação, na imprensa, na política, na legislação. Hoje pesquisadores brasileiros podem trabalhar com mais material que antes, e com isso milhares de famílias podem, no futuro, ter mais saúde. 
Possivelmente nada, nada disso seria uma realidade se não tivesse havido a persistência do movimento social. 

Eu conheci o Na Luta por meio do Sr. Hermano Vianna, companheiro de luta, guerreiro durante o processo pela liberação das pesquisas, foram vários anos e quatro instâncias. Vencidas!

E por isso tomo a liberdade de através deste texto agradecer a cada família que esteve ao meu lado, a cada pessoa, principalmente à minha família, que aguentou tanta coisa; e me despeço com a 
tranquilidade de ter feito o máximo, e com a certeza de que muita gente boa batalhará por ainda mais avanços.

Foi uma honra imensa exercer este trabalho. 


Outro dia eu li que: saber a hora de parar e tão importante quanto lutar por aquilo que se ama.


Um beijo,
Andréa
andreabalb@gmail.com

PS: Texto publicado no informativo Na Luta - Edição 16 - pág. 16

Sites/blogs que indico:

domingo, 22 de janeiro de 2012

Big Blood Donor #bbd #bigblooddonor



Oiê, resolvi escrever este post rapidinho... ao estilo: chega de blá, blá, blá e BBB!
Aproveitando a onda global de galera jovem, e também a chegada do Carnaval (ocasião na qual os estoques dos bancos de sangue vão à míngua), nada mais propício que criarmos a Campanha BBD - Big Blood Donor!!


Com hastag e tudo!
#bbd #bigblooddonor


Tô muito maluca ou até que é interessante?! (os 2?)


Beijos,
Andréa



sábado, 14 de janeiro de 2012

Shift + Delete?

Levei um susto coletando alguns textos antigos para colocar aqui no blog. 
Virou garimpo. 
Nossa, e quando dá muita vergonha, e nem sequer alheia é, das coisas que você escreveu?!

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Dicas de Pai...



Fiquei muito emocionada quando li um post de uma amiga, aliás, de vários amigos que compartilharam recentemente uma matéria que saiu na revista Época em julho de 2011, a respeito de um pai que, ao saber de seu diagnóstico, e sobretudo de seu prognóstico, deixou várias coisas gravadas, presentes comprados, e também 28 valiosas lições escritas aos seus filhos, com 5 anos e 1 ano e meio à época da reportagem.

Chorei de emoção, de compaixão e de felicidade por também ter tido um pai que o fez. Que deixou tantas lições, maravilhosas. Meu pai morreu há quatro anos, e agora eu já estou melhor, um pouco melhor. Eu tive o que pode ser chamado de luto patológico, que não foi bem elaborado na ocasião, no dia eu estava bem, na semana eu estava "forte", tentando resolver várias coisas burocráticas que envolvem o tão conhecido ritual, e com isso me estrepei, quando todos "voltaram ao normal", eu estava péssima.

Meu pai foi um homem determinado, desbravador, centrado, correto, ético e muito, muito bem humorado. Certamente ele ficaria puto da vida se me visse sofrendo. "Filha, pára com isso, já passou", ele falaria. Mas eu não conseguia. Bem da verdade ainda não consigo falar muito, ver fotos, e sem sombra de dúvida quero trucidar meus irmãos que ficam passando vídeos familiares. Aff... Mas estou melhor (vou repetir isso 100 vezes!). 
Eu não vou dizer que devo isso a ele, não devo nada, nem ele deveu, se superou neste sentido, viveu intensamente! Nada deixou de ser dito, isso é maravilhoso!

E esta é uma dica: procure dizer as coisas, dividir. Se você ama ou está bravo, diga. Não espere muito.

Eu lembro quando me apaixonei pela primeira vez, eu tinha 13 anos e meu pai me viu chorando de amor e saudade. Ele falou algo do tipo: "Todos passam por isso, isso é vida". E completou: "Só os vermes não caem". Já pensou? Esse era o meu pai.
Ele não se deixava abater. Quando nossa casa inundou (sim, inundou 1,5m!) eu me lembro de ter implorado para mudarmos. Ele amava a casa e disse que não sairia de lá, colocou comporta, filmou, arrumou tudo, processou os órgãos responsáveis pela falta de vazão e continuamos lá!

Ele era teimoso prá caramba! E estava sempre fazendo planos, vivia o presente e pensava com otimismo no futuro. Como eu o admirava por isso!
Eu admirava e amava, amo, tudo em meu pai, até seus defeitos (prefiro chamar de 'características'!), como o seu temperamento tão pouco maleável às vezes, aliás puxei 100% isso dele!!
Quisera eu ter herdado também sua excelente memória, sua disciplina monástica em relação a inúmeros aspectos da vida, impressionante. Sua dedicação ao trabalho, sua cultura. E certamente eu queria muito ter nascido com os olhos tão verdes quanto os dele.

Caramba, ô homem que viveu mesmo, viu. Além do gênio turrão, eu puxei a paixão por viagem e por praia, por mais caseiro que ele fosse, meu pai sempre falou em viagens, viajou muito e me incentivou a ir a diversos lugares.

A reportagem que me motivou a escrever este texto fala sobre as lições deixadas por um pai, então vou deixar uma aqui também, que aprendi com o meu pai, a de fazer planos, sempre. Realizá-los ou não, alcançá-los ou não, por qualquer motivo que impeça é uma outra coisa, mas planejar o futuro é muito importante.
Devo confessar que preciso melhorar muito neste aspecto, digamos que essa possa ser uma resolução para 2012!

E esta é então minha segunda dica: procure fazer planos para o futuro, para daqui a um minuto, para amanhã, para os próximos cinco ou cinquenta anos.

De novo, realizar são outros quinhentos, mas temos de começar de algum modo, né?

Se meu pai me disse isso alguma vez? Nunca! Ele simplesmente agia assim. Ensinou  isso com o exemplo. Mostrou isso a todos nós.

Então em respeito a nós dois eu vou tentar me sair melhor nesta área! Prometo!

Vai seguir nossas dicas? As do pai da reportagem, do meu pai e a minha? Eu vou! 
E não é que este, por si só, já é um bom plano?!

Beijos.


Confira também os textos no portal: Uma Mãe das Arábias

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Amore!

Edu, 
Feliz 2012!


Cumplicidade


Hoje recebi uma visita super especial, tudo bem, foi pelo Facebook, modo que eu tanto critico, né? De toda forma foi muito bacana. Foi de um amigo que não vejo há tanto tempo, um amigo de luta.
Ele escreveu um livro e pedia meu endereço para o envio de um exemplar. No mesmo instante, lembrei de tantas coisas que passamos juntos, apreensões, surpresas boas, fracassos, vitórias. Ainda não li o livro, claro, mas quando li seu recado: "Tenho como novidade o livro que saiu do forno", fiquei imaginando se algumas de nossas vivências estariam ali descritas.

Vivências interpessoais fazem cúmplices.
A gente costuma dizer: "você não pode imaginar...", o fato é que imaginar pode, mas lembrar, rememorar, isso não, isso só os cúmplices podem, o que os torna íntimos para sempre.
É bonito, e de certo modo um alívio, saber que outra pessoa compartilhou algo tão forte com você. Parece que uma testemunha nos coloca tão seguramente numa base, como se pudéssemos dizer "Você viu! Você também estava lá”; e ouvisse a resposta mais prazerosa do mundo: "Sim, eu vi, eu também estava lá e estou aliviado que você sinta o mesmo”. Tudo isso porque por mais que saibamos da solidão a qual estamos destinados, "somos criaturas intrinsecamente sociais", como diz Yalom¹.

E compartilhar, repartir, torna tudo mais real.
A luta que vivi com este meu amigo – e com algumas outras pessoas tão queridas – fez parte do trabalho desenvolvido na ONG, parte da batalha pela liberação das pesquisas com células-tronco no Brasil.
Hoje vemos o resultado deste trabalho, ainda bem! Mas o rudimento, essencial e elementar, foi uma experiência realmente marcante, pouco planejada, eu diria, vivida por algumas pessoas com muita intensidade.
Será que alguma dessas vivências estará no livro? Talvez!
Desde já agradeço o exemplar, meu amigo.
Este texto foi escrito porque estávamos juntos lá e, sobretudo por você ter estado aqui hoje. Que bom!


YALOM, Irvin D. Os desafios da terapia. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006. (p. 57)