É a festa que sua amiga possivelmente
encontrará o cara que ela quer muito. Ela te convence com: “É open bar e eu te pago o taxi”.
Como é gostoso sair assim, meio que
para acompanhar, porque todas as coisas que rolam são sem muita pretensão.
O lugar é lindo, sua amiga encontra o
cara; e você uma caipirinha de lichia com gengibre. Apóia o guardanapo sob o
copo, o canudo nos lábios e o corpo numa pilastra rústica, enfeitada com palha
e margaridas de fuxico. O som está ótimo e você admira aquele mundaréu de
frutas já pensando na combinação do próximo copo com vodka.
Estranho, por que o cara do bar está
debruçado no balcão? Você afasta o corpo e vê a cadeira de rodas, ouve uma
gargalhada, os dois amigos se cumprimentando e recebe um olhar e um sorriso
incríveis. Caramba, o cara mal se mexe, é tudo que você consegue perceber até
ele te olhar de novo.
Ele vira o rosto, move a cadeira um pouco
para trás e tira a franja de perto do olho. O último gole você deve ter dado
meio rápido, porque não consegue definir, se o que te faz ficar olhando é o
fato do cara ser cadeirante ou porque ele tem uma coisa...Coisa? Um treco no
olhar, desses de fazer a gente sentir uma cólica boa. Ãh?
É, não é bem um frio na barriga, mais
parece um alien baby, que faria
a Sigourney Weaver querer te abater na
hora.
O cara te olha de um
jeito que caso você cruze o olhar com ele não conseguirá sustentá-lo por muito
tempo, porque ele te ganhou, querida, mesmo.
Aí você já está meio
pirada, acostumada com as pegadas-polvo, braços rápidos, pernas ágeis, fortes,
mas o olhar matador faz com que você pense em como deve ser, como vai rolar,
porque o cara já te ganhou, repito!
Palpitações que
dispensam estetoscópio. Quer fazer um teste? Numa dessas olhadas encoste
sutilmente o indicador e o dedo médio entre os ossos da base do pescoço, e
ficará assustava, a pulsação está a mil, disparada mesmo.
A troca de olhares
continua, você está a fim, mas algo te lembra que você nunca teve nada com um
cara que usava cadeira de rodas.
Ele te chama com um
“vem cá” que faz você deletar qualquer intuição babaca de não ir.
Primeira dica: não
fique de pé ao lado dele, é um porre para quem está na cadeira tentar ficar
olhando alguém em pé. Procure sentar-se para que fiquem na mesma altura. Vale
agachar, viu. Vale um charme de quase perder o equilíbrio e encostar
delicadamente no braço dele com um “ai, desculpa”.
Pela novidade, pela
experiência, pela vontade, será um ou serão vários os motivos que levarão vocês
dois para a cama.
Foi a curiosidade?
Aquela que mata? De prazer!
Sabe-se lá o que levou
o cara a querer você e a você se deixar invadir por ele.
Felizarda! Agora você
também sabe que preconceito impede a vida da gente, e que muitas vezes você
precisa destravar a alavanca, ir para a frente, se libertar.