quarta-feira, 15 de outubro de 2014

25/03 em 11/10

A 25....

Fui com o propósito de fazer uma única compra: a de uma armação de óculos... 
Nossa, há tempos eu não visitava aquela dinâmica maluca no centro da cidade de São Paulo.
Parece que a economia foi significativa; mas na ponta do lápis, computando o pastel de palmito, o estacionamento, o damasco do mercadão, o vidro de pimenta biquinho, sabe-se lá se uma ótica no shopping Eldorado, com parcelamento amigável, não teria efeito maior....

Vinte e cinco de março é lugar de muitos idiomas, de paz entre tantas etnias, de guerra entre lojistas e camelôs. Lugar de cometer erro ao confundir, por ignorância, chineses e coreanos. Lugar de contrabando, de contramão, de verdade e de falsificações. 

Próximo dali o Mercado Municipal com frutas coloridas, cheirosas, aroma confuso da mistura de bolinho de bacalhau, com temperos dos mais variados, cheiro de empório, cheiro de mortadela.
Tudo naquele entorno transpira a São Paulo popular, lugar que recebe as pessoas indiscriminadamente. E ironicamente, pois tem uma inospitalidade instaurada, pela falta de espaço, pelas calçadas incertas, trépidas, pelo mau cheiro que escoa rumo aos bueiros entupidos, nas ruas acinzentadas.
Li que o nome 25 de Março oriunda da data de juramento da primeira constituição do Brasil independente; no entanto, não é possível saber qual lei ali impera na atualidade, qual juramento prevalece.



Ladeira Porto Geral acima, no metro São Bento habitam por alguns instantes os rostos ora cansados, ora animados, missão cumprida, de tantos compradores, corpos suados, sacolas imensas sendo arrastadas, crianças também, por suas mães, que as reprimem por usarem os brinquedos que foram comprados uma hora antes, iniciando uma esquizofrenia exaustiva a todos, causada pelo desgaste da caminhada e pelo consumismo exacerbado.
Assustador também o número de pais que levavam bebes que aparentavam ter menos de 2 anos, parecem tão insalubres, o local e a atitude.

Mas ali está, e estará por muito tempo, a 25 de março é de todos nós, um espaço público curioso, paulistano, plural, de dores, de sonhos, de planos...
Queria muito saber a história de tantos que ali estão, como o do vendedor de baterias, que parecia gentil com todos, de rosto forte, mas amigável, com português sonoro no mais interessante sotaque árabe. 
Tudo ali parecia confuso e em paz, na ambiguidade que só o centro torna capaz.
Finalizo esta reflexão nesta rima tola, com saudade deste passeio, que desperta a loucura de ter sentimentos opostos: a vontade de não querer voltar tão cedo, mas o desejo de estar ali, comendo pastel, esbarrando em tantas vidas...