terça-feira, 16 de setembro de 2014

Por favor não me ame agora...


Um amor declarado chega repleto de delegações, algo com o qual você tem de lidar. É seu agora. E o que você vai fazer com isso?

Quando alguém te ama, é bem Exuperiano: "tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas"; desse modo você já é um devedor, a contrapartida é aquilo que completa o sentimento dito pelo outro, o débito é o seu amor de volta. Mas e se isso lhe falta? 
E se a mão estendida não é alcançada porque você estagna? 
Mas por quê? Por que você congela? 
Sei lá se é importante descobrir a causalidade do seu recolhimento, afinal quando admiramos um siri, ele logo se esconde, um caracol se encaixa em sua concha, e nem sequer pedimos explicação.
O fato é que um amor declarado não é afirmação, é sempre um pergunta. Você me ama também? 
Tô aqui neste Alaska curtindo as nuances de poucas cores. 
Estou quase em branco.
Vale responder só isso? Que eu apenas me apeguei à minha paz.



segunda-feira, 15 de setembro de 2014

NÃO É CULPA DE DEUS!!


Um desabafo sobre os riscos à vida, pela hipocrisia atribuída ao sobrenatural.

Que assim (diferente) seja!




Existem muitas congruências entre a situação econômica deste país, o nosso 'emergir' em lado oposto, a corrupção escancarada e a permissiva popular de sua prática, o atraso da ciência em centenas de anos e mais uma morte por aborto clandestino ocorrida nos últimos dias.

Historicamente construídos e absolutamente entrelaçados, esses pontos que aqui descrevo têm, entre tantos outros novelos desmembrados, uma linha comum que costura essas infelicidades: as instituições religiosas, a igreja católica, e muitos dos templos de Salomão, que furtam tanto dinheiro quanto a capacidade das pessoas refletirem. Um atraso imensurável, um risco cujo preço muitas gerações continuarão pagando. 

Há milhares de anos, e assustadoramente ainda com tanta força, existe esse manto sagrado, cujo tecido, intangível, de veludo pesado, vela, cega, impede a liberdade, a coragem e muito pior, extrai a RESPONSABILIDADE de cada cidadão tomar para si o caminho das próprias escolhas e principalmente as consequências destas.

A imposição religiosa, e sobretudo unilateral, cristã, em um estado Laico, não é apenas inconstitucional, é um atraso, uma vergonha, um crime. Uma profunda tristeza.

Eu não tenho dúvida que delegar a Deus todas as agruras da vida e bençãos é um caminho fácil.
Eu queria muito, muitas vezes, acreditar, não acredito, em Deus, nos céus, no inferno, em nada.
Sim, isso dificulta muito as coisas por aqui, mas eu não estou discutindo a existência de Deus, mas o oportunismo dos homens em nome Dele.
E tanto pior, das consequências causadas pela atribuição divina aos mais perniciosos seres HUMANOS, resultando em maldade, mortes e inação.

Uma jovem está desaparecida porque foi fazer um aborto clandestino, porque é proibido, porque a igreja condena e o congresso diz amém. 
Ela fez fez aborto porque engravidou, engravidou porque não usou métodos anticoncepcionais, os quais a igreja condena e o congresso diz amém.
Temente? Eu temo por essa moça, pela sua família, pela mãe dela que a perdeu.
Temo por todas as mulheres que por uma burrada, por medo, por vergonha, por força da lei (absurda) morreram...

E lá segue o povo fazendo mais filhos, porque Deus manda, porque o machismo coloca o pau sem perguntar nada, porque onde come um comem 10, ou ninguém come nada, o ouro do Vaticano não banha o garimpo do Pará, não brilha no Norte, no Nordeste, nos sertões deste Brasil. O ouro do Vaticano não veste Serra Pelada, nem a menina descalça, nem mata os vermes das regiões órfãs de cuidados, de saneamento, de gritos por mudança, nem luta porque a igreja disse que esse é o destino.

Será que o meu coração não tem espaço para Deus por tamanha indignação diante da perversidade mundana?




Eu ORO através deste texto, clamo por mudança, por punição aos templos corruptos, aos homens injustos, à mentira em nome de quem não pode se defender.
Eu ORO por uma iluminação às mentes adormecidas pelas vozes  baixas e uníssonas e gritantes de padres e pastores, que eles se emudeçam um dia, que por força maior, as pessoas compreendam que podem ter saúde, escolas, comida, amor, sem ter medo. Tudo aqui. Que lutem por isso com a pouca força que têm, porque delas se tirou muito.
Que as pessoas possam votar melhor, amar os filhos, escolher tê-los ou não tê-los, fazer o bem não porque alguém mandou, mas porque é a coletividade que nos faz cidadãos. 
Eu ORO, através deste texto, por menos discriminação, pela descriminalização do aborto, pela liberdade de escolha religiosa, sexual, e por um sertão mais irrigado, de ciência, saúde, e liberdade de pensamento.

Me permito ser generalista, até porque não teria como eu fazer um estudo profundo dos malefícios da herança do obscurantismo religioso que está absolutamente presente em nosso país. 

Termino aqui com minha sincera indignação a essas candidaturas ligadas à religião, assim como a invasão das rádios, assim como políticos naquelas cafonices nojentas e corruptas que são as casas e templos espalhados por aí...

Todo meu respeito ao corajoso e arrojado papado de Francisco, um homem que me inspira, e me dá esperança por um Vaticano melhor, mais justo.
Outro Francisco que me inspira sempre: meu pai; que me mostrou o melhor caminho, do qual as vezes eu desvirtuo, mas eu mesmo assumo as consequências, porque não espero nem o céu, nem o inferno, espero crianças na escola, idosos respeitados e vivendo dignamente, adultos trabalhando, lendo e se alimentando.

Amém!
Andréa Albuquerque